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The Taste Of Leather On Your  Lips

 

Não há nada mais frágil do que o toque. Nada se torna mais importante do que esse instante que percorre o corpo, sem receio de explorar, rompendo correntes, silencioso, deslizante. É um feitiço impossível para muitos, mas existem criaturas impossíveis, cujo o mero agitar dos dedos num corpo agita uma tempestade desconhecida momentos antes. Uma capacidade de forçar a submissão pela pressão de um beijo. A suprema arte de uma língua húmida que viaja de um peito cansado e agitado, percorrendo o pescoço tenso, explodindo no topo de um queixo oferecido ao torpor. A suavidade de um pé  no nosso braço dorido. O cheiro do cabelo roçando o nosso nariz num encantamento desconhecido.

É esta fragilidade que fascina a minha paixão por tudo o que fragiliza as minhas imperfeições, como a minha incapacidade de resistir ao que me submete sem recurso à força bruta. Porque sempre me alimentei de combates e forças contrárias, que sangram, que arrastam dolorosamente. Nunca para a leveza do contacto de um roçar de outro corpo - talvez porque mais suave e menos rugoso que o meu corpo. Estranho. E fascinante, na criatura que toca e pressiona com a sabedoria de quem aprendeu a dominar sem proferir uma palavra, apenas porque é assim.

Assim deve ser.

Para criaturas como eu existe a sede de aprender esse toque, mesmo sabendo-o breve como uma preciosidade, a inocência da ignorância de anos na procura desse tocar e quando por fim o conseguiu sentir, consumir cada momento até ao fim. Até à glorificação que apenas certas artes concedem.

Existe tanto de glória como de abismo na gentileza opressiva desse toque. Uma certeza de entrega, e principalmente, um prometer de que algo se irá cumprir, uma promessa sem falhar. Para que fique retido em mim esse momento da mais absoluta entrega, apenas basta que lhe pressinta o brilho dos olhos e respirar sereno, enquanto se revela em todo aquele esplendor.

Cósmico.

Porque o respirar e os olhos também tocam. 

Afastam o Inferno.

Culpado.

Fleuma,

 

 







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