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A tua voz é um culto de profanação aos instantes em que o silêncio mais pesa. Ainda hoje sou um cego com as mãos estendidas, não sabendo uma outra forma de explicar como consegues abrir a porta e entrar. Mesmo assim, creio que posso ceder a estes momentos de doce arrogância, e não pedir desculpa, porque quero que essa voz seja minha, que se sente dentro de mim.
Um sussurro é um universo aberto, sabes? Consigo que se torne um fim, uma transformação, aquele bater de asas apenas escutado por quem realmente viaja sem medo.
Mas por algum estranho desígnio, eu nunca consigo usar as palavras mais belas, as emoções mais cristalinas, para te iluminar o caminho. Antes tento que pressintas por memórias que vou desfiando desajeitado, incapaz de escrever com o pulso seguro, gravando um outro caminho, mais seguro e menos sombrio. Sei que te habituaste a sombras, a esta minha obsessão impregnada em líquidos estranhos, mas não sinto em ti o sabor do ódio pelo que sou. É como se, ao abrir a porta, fosses portadora de uma estranha poção, algo indistinto a esta obsessão, que te deixa respirar livremente em certas atmosferas.
Gosto disso. De atmosferas. Do rasgo claro que surge no escuro, nos passos suaves de quem caminha silenciosa, temperando a insónia, num entalhar de solidão.