Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A Dor e outros Prazeres
999
Atravessar a passagem de alguém sempre me fascinou. O efeito causado por esse cruzamento é ainda mais fascinante; em muito raras vezes, algo fica como marca, e recuso-me a deixar fugir esses traços no tempo. As outras, as que pretendo esquecer, são muitas. Demasiadas. São marcas profundas, pesarosas, antigas, a troçar precisamente disso: esquecimento.
Mas são os cruzamentos que recuso deixar escapar que assombram os meus dias. São essas raras encruzilhadas onde não permito o esquecimento, e vou, metodicamente, tentando regressar uma e outra vez. Essa raridade preciosa que existe em Algo ou Alguém não é uma virtude comum a todas as criaturas ou coisas. Não. É um ponto de referência que consegue desviar a minha vontade naqueles sinais vestidos de portento que demonstram precisamente o que falta em mim, esse Algo ou Alguém onde poisar, esses traços únicos de lucidez distante, a noção de ter encontrado algo que perdi.
Faltam-me demasiado tempo esses alambiques escondidos, expressões de Algo estranho em mim. Faltam-me muitas vezes as palavras para o descrever, e então, em outras passagens e encruzilhadas, aprendo e conheço.
Reconheço.
(Fleuma)