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A viagem pode ser interminável para o viajante insaciável, mesmo neste mundo onde tudo parece ligado; onde todos parecem pensar no mesmo; todos parecem querer seguir pelos mesmos caminhos. E onde as distâncias parecem atemorizar muito mais do que resplandecer o sentimento de liberdade.
Alguns. Uns poucos. Seguem sempre mais longe.
Não é sequer um sentimento de lobo solitário. Não, claro que não. Nada tem de romântica esta necessidade de viajar muito mais longe. O poeta que anseia pela descrição do viajar raramente conhece o Viajante, porque nem sempre lhe reconhece aquele odor de loucura a vaguear, ali, um pouco mais abaixo da margem que se avista. Não consegue realmente descrever a surdina do pensamento dos que sistematicamente se recusam a aceitar a pacatez dessa imobilidade, que muitos reclamam como felicidade e vida. É como uma fome incandescente que devora o espaço. As horas e os dias.
Eu partiria contigo muito antes do sol nascer. Quando a noite ainda segredava outros encantos. Como gosto de o fazer. Desde que me recordo de mim como criatura caminhante que anseio por começar a Viagem antes da luz do sol.
Partilharíamos as estradas e as montanhas como dois companheiros incansáveis. Os nossos olhos seriam os espelhos da nossa própria salvação. A neve dessas encostas a nossa amante possessiva com o beijo gelado dos ventos a sussurrar sobre outras encostas e outras escarpas.
Caminharíamos pelo calor com panos na cabeça e a face tapada. E sei que esses olhos iriam cintilar com as tempestades de areia.
Mergulharíamos nos mares gelados do Norte até conseguires tocar, nadar, deslumbrada, entre os seus grandes fjords num silêncio astral. Nunca mais desejarias voltar a olhar para trás.
Saberias de Runas e conhecerias os teus próprios passos na Grande Floresta. Onde viaja o corvo da montanha. Porque somos criaturas desmedidamente pequenas a construir Grandes Muralhas, apenas para manter aceso o sonho de grandeza.
Conhecerias os Meus. Os Meus Salvadores. Provarias do vinho do Seu Orgulho. Do Seu Rir. Da Sua Força tão imensa. Cantarias as Nossas Canções junto ao grande Fogo. Dançarias nas brumas enquanto os céus se queimam nas auroras. Brindarias entre Amigos. Irias rir e chorar porque nada se compara a estas preciosidades únicas e tão distantes da tua vida agora.
E sei que quando voltasses aos teus dias de agora saberias porque sempre te falo de Saudade e Nostalgia.
Sei que os teus olhos iriam brilhar distantes.
Que irias traçar lembranças a negro no teu corpo, num recordar que apenas sossega quando se despe, e pelo olhar sereno e intimo, pela ponta de um dedo que segue por esses esquissos, afoga um pouco a
vontade de voltar a partir para junto Deles.
E nunca mais regressar.
(Fleuma,)