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Os restos do dia ...

O método mais cruel de subjugação pessoal tem a química da companhia. A constatação das virtudes de uma certa cumplicidade, essa visão de um vazio por encher, onde algo nos falta, é uma chicotada na ilusão de estarmos sós e em paz. Conjurar o destempero de uma solidão é uma arte - um crivo que nos arrasta para longe naquele encanto de embalar virtuoso das notas escutadas antes do sono de criança.  Reconheço essa arte porque são demasiadas as vezes que por ela me deixo guiar.

Cego. 

E no entanto sempre pressenti uma necessidade de espaço ocupado por outro. Não apenas no pensamento, mas na emoção de sentir o calor de um corpo junto a mim. Algo primário, entranhado e inquietantemente reconfortante como uma saída de fuga. Essa cumplicidade acaba por se tornar um processo vital de sobrevivência pessoal, onde o afastamento e a necessidade de espaço vasto e isolado aumenta dolorosamente a vontade de uma companhia. E como se torna necessário, nesse isolamento, o som de um riso ou uma palavra segredada!

Eu aprendi tanto com este paradoxo! Um egoísta debruçado na companhia de outra criatura. Esse valor inestimável provado e saboreado com todo o requinte no silêncio; esse pulsar tranquilo do corpo nu que descansa ao lado  enquanto a noite se estende.  Esta é uma verdade insofismável - uns são viajantes outros são portos de abrigo. 

Quanto mais necessária se torna a distância maior é o desejo de outro. 

(Fleuma)

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