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A mente é uma sequência de armadilhas colocadas com uma precisão sinistra nas emoções, cantos escondidos do mundo, dispostas como armas de corte onde o rasgar se torna impossível evitar. É como uma suprema ironia esta faculdade da mente - a faculdade de pensar e assim sonhar, assim mesmo decidir, engendrar, arrogantemente vai criando a sua própria antítese nas armadilhas que ela mesmo fabrica, cinicamente colocando uma aqui e uma outra ali, escolhendo ignorar uma gota de pacificação, um descanso sem temores. Não existem dias iluminados sem o golpe do que virá depois. O pensamento absorto em si próprio não aceita o descanso a não ser pela Morte. Nada mais importa.
Para aqueles que já estiveram próximos do passo final antes da queda no abismo e conseguiram resistir ao seu encanto, ficou a cicatriz profunda da tirania do pensamento. Uma chicotada permanente que recorda ao escravo uma armadilha solta e uma próxima ainda por descobrir. Um golpe agora por suturar não sabendo se na próxima haverá retorno.
A mente, essa deliciosa coisa com o sabor do infinito, cria os seus próprios esporos e metástases, florescendo numa escuridão venenosa com nomes que deveriam ser silenciados, um arrastar obsessivo que coloca o seu pé niilista no nosso pescoço, e lentamente, vai esmagando a existência até ao desespero absoluto.
Quem sabe desse quase completo niilismo sabe quantas vezes esteve para morrer. Aprendeu a temer a mente enquanto vai suturando uma e outra laceração, nunca adormecendo a sono solto.
Sempre a esconder o desejo de sonhar porque sabe que a mente não gosta de desejos e sonhos.
(Fleuma)