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Somos criaturas teimosas ao ponto da obsessão. Insistimos arrogantemente na ideia da separação pessoal de emoções, como se as conseguíssemos partir em metades, e assim, esconder o que nos consome em pequenos compartimentos fechados com cadeados. Transformar a criatura humana num símbolo virtuoso é uma velha batalha.
Inútil. Impossível.
A teoria da meditação, uma tentativa de expurgar emoções "negativas" e apenas conservar o que nos interessa, é uma falsidade com a aparência de cura pessoal. Precisamente porque tenta separar o inseparável, como se não fossemos uma totalidade impossível de separação - como se fosse possível funcionar por partes afastadas e da forma que mais nos interessa.
Nada é mais ilusório do que a satisfação de quem se acha emocionalmente purgado apenas porque assim pensou, meditou, rezou, chorou ou gritou, e com isso presumir prosseguir num qualquer caminho de virtude segura.
Talvez o processo seja o oposto. Se calhar significa aceitar tanto o demónio como o anjo. Entender, finalmente, que os opostos não funcionam separados; só existe uma verdadeira Luz porque conseguimos sentir a Escuridão. Não existe maior capacidade de sobreviver, maior declaração de potentado individual do que o saborear de uma Luz depois de um longo caminho de Escuridão. Nenhuma cicatriz se torna verdadeiramente nossa se não conseguirmos seguir o caminho oposto, da claridade mais feliz e amena para o escuro mais cerrado.
Medite-se uma eternidade mas não se sente a recompensa do calor ameno sem a pulsão do frio. O êxtase de dois corpos unidos é uma dor que vamos experimentando e conhecendo, uma dor física e mental, um inferno que termina num paraíso. Impossível separar. Isolar.
Não é verdade que a melodia mais bela surge nos instantes mais sombrios? A desilusão mais amarga não brota sempre depois dos sonhos mais doces? Um beijo, um sussurrar salvador, uma mão esticada, não são aqueles momentos de alquimia perfeita para quem encontrou a saída de um poço escuro?
“Uma pessoa não é iluminada por imaginar figuras de luz, mas por estar ciente da escuridão.” -Carl Jung
Fleuma,