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Talvez um dia tudo o que reste realmente por aqui sejam os traços que fui deixando no meu caminho, pequenos sinais de passagem, pedaços de um todo que deixei ficar. 

Timidamente. Talvez.

Questiono demasiadas vezes nestes últimos tempos, cada vez mais envolto numa imensidão que me consome os dias e as noites, a necessidade de manter este local, esta terapia intima, porque foi assim que tudo começou aqui, numa forma distorcida e visceral de me ajudar a respirar sem sufocar. 

Nunca me imaginei escritor de nada. Porque escrevo de mim e para mim numa tentativa egoísta de silenciar, punindo com palavras, fantasmas e demónios; isso nunca será a tentação de quem acha ser um escritor porque escreve com o sonho da imortalidade, de permanecer além do corpo. O egoísmo não é parte de um escritor. Antes a necessidade de partilhar seja o que for.

Este local perdido de tudo (acho extremamente acertada esta convicção), sempre foi uma espécie de catecismo pessoal onde consigo presumir a minha própria inocência sem rejeitar o que sou. Principalmente, manter este local sempre se alimentou dos meus pensamentos transformados em palavras escritas. Porque nunca deixei de carregar em mim a ideia de escrever enquanto vou pensando, nunca deixei de acreditar na necessidade de expurgar o pensamento através da escrita. É como se escrever fosse uma extensão da alma.

Existem locais onde a escrita pretende edificar um altar de comunhão, uma congregação de fieis onde a partilha de palavras é tão vasta que tudo se torna gigantesco. Irrespirável.

Aqui sempre foi um pouco mais sinistro. Um pouco mais feito de fechaduras e janelas. E portas. Muitas portas. De traços escritos sobre erros e sobre os flagelos do crescimento. Às vezes caminho por estes lados despido seguindo os meus passos e a minha sombra. Gosto de falar com a minha insónia. Gosto de me lembrar de olhares, de sorrisos e de beijos oferecidos na minha língua. E de atmosferas. É neste local, na solidão do meu pensamento, que muitas vezes encontro o consolo da saudade e da nostalgia, onde as minhas preces deixam de ser vazias. Onde consigo parar e fechar os olhos.

Mas talvez este local esteja condenado a desaparecer para que todas as palavras do meu pensamento possam regressar a quem pertencem.

Novamente.

Afinal acredito em ciclos.

E não é que já não existam outros pensamentos ou outras palavras. 

Não.

Mas, de uma forma distorcida e visceral, também me apaixonam os locais abandonados e silenciosos onde apenas se consegue escutar o vento.

Fleuma,

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