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Poderia deixar-te atónita com o que já vi; com os odores que se transformaram em prazeres raros; poderia falar-te de sons apenas recontados com a eternidade no pensamento, tão distantes, e mesmo assim são como batimentos sanguíneos de outras auroras.
Sei que poderia descrever-te isso e tantas outras coisas! E sei que te seria difícil acreditar, que sentirias ser impossível tanto viajar cada vez mais longe.
Não interessa.
Transmutar.
Nunca aceitei apenas a virtude de viajar em pensamento. Existe um outro, maior, portento, na arte de viajar percorrendo distâncias. Deslocar o corpo entre Terras. Não existem fórmulas químicas para o justificar. Esta transmutação não tem pensamentos nos livros de escola. Nasce em nós. E depois é acarinhada como uma amante preciosa. Onde a existência se torna insustentável sem obedecer aos seus caprichos.
Talvez acredites que tudo isto não é verdade.
Não interessa.
Porque hoje ficaríamos agachados junto ao calor de uma viagem tua. Hoje tudo o que é nocturno seria teu. Hoje a minha insónia seria tua. O meu silêncio sem respirar seria para escutar as tuas viagens. E as tuas esperanças em pedaços. Os teus sonhos mais sombrios. Os teus pensamentos em caminhos rasgados por luz. Aqui e ali. Tudo tem esse sabor quando os olhos brilham no escuro.
Tudo.
O teu pensamento seria o meu. A tua solidão seria a minha. As tuas paixões seriam as minhas. O teu murmurejar seria a minha lembrança em noites sem sono.
O teu corpo despido será coberto pelo meu manto. O sossego das tuas palavras seria o meu. O latejar dos teus anseios as notas escritas nas minhas cicatrizes.
O caminho dos teus passos ao raiar do dia o meu último viajar ...
... Antes de adormecer.
(Fleuma)