Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Por um erro de cálculo, se calhar uma absurda incapacidade para deduzir inevitabilidades, muitos são os que não reconhecem o absurdo de existirem. Por isso me arrepia pensar em eternidade num mundo como este! Seria a perfeita justificação do inferno. Não do céu das alminhas metafísicas. Imagino o que será viver para sempre rodeado pela inutilidade de quem não reconhece um fim. Onde a incapacidade de prescrever os passos a dar e assim aceitar um retiro digno é tão gritante que assume contornos dementes.
Não sei até que ponto a eternidade não se converteria num digno castigo para estes absurdos existenciais, agora que penso nisso. Um tempo sem fim, arrastando-se por locais que apenas imaginam ser possíveis. Choramingando em cima de fantasias acima, tão acima, das suas cabeças. Creio que seria desígnio, justiça poética. Mas eu não estaria presente. Até porque sei que não resistiria a tanto absurdo.
Dizem-me os mais velhos, de boca desdentada e sorriso franco, que a velhice traz consigo uma colheita de sabedoria. Bem, ainda não sei se os mais velhos contam a verdade. O que testemunho é francamente o contrário. Para uma grande maioria, a velhice não é ( como deveria ser...) um ajustar de contas com o passado. Um recolher de ventos semeados e uma séria tentativa de terminar os tempos que se tornam mais curtos numa plácida reclusão. Descanso merecido e esclarecedor. Mas não: alguns absurdos permanecem naquele limbo ditador de uma triste e falsa arrogância. Tentando a guerra em nome de anos passados e que já não voltam. E porque já não possuem outras quimeras onde possam agarrar alguma recordação feliz são os outros os culpados. Devem pagar o preço.
Divirto-me com isto, claro. E se estiver mais atento nestas coisas mais mundanas, reconheço cheiros e ódios. Porque há quem não mude nunca! Por isso se torna fácil identificar elos fracos e abrigos feitos de palha onde pensam estar longe da vista. Erros estúpidos sempre cometidos e em nome de uma absurda existência.