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O caminho é sempre feito pelo manto branco da neve. Passos lentos. Botas negras e grossas enterrando-se no chão. É doce a antecipação do encontro. A riqueza intacta do primeiro olhar e o intenso tremor do calor de uns braços em volta do pescoço. Saberás desde sempre que este é um castigo. Punição que a mim decidi oferecer. E ainda que muito te interesse, deixa de ter sabor quando bato com as botas no solo para sacudir o gelo.
Quando a porta se abre, nos teus olhos as lágrimas são a marca dos dias que passaram. Não existe nada que eu possa dizer e assim consolar. Limito-me, muitas e muitas vezes, a tremer enquanto tento não destroçar o pouco que ainda resta do meu orgulho. Mas a saudade é tanta e o vazio que se preenche é tão imenso que apenas consigo estremecer.
Apenas uma criatura como tu conseguiria permanecer horas a fio em plena escuridão e silêncio junto a mim. Descobri contigo que existe uma melodia intrincada na respiração cúmplice. E uma sede tão cruel que todas as palavras são ditas sem voz.
É absurdo, mas é possível morrer assim. O mais maligno deste facto é não ser uma morte rápida e em misericórdia. Antes lenta e feita de saudade. De distância.