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Eu não acredito na possibilidade de viajar apenas por pensamento. Como é possível e aceitável, sequer, imaginar viajar em pensamento? Talvez seja importante para alguns, esticar as pernas num sofá e de olhos fechados "viajar". Se calhar em frente ao ecrã de um computador, imaginar e ver imagens? Longe! Tão desgraçadamente longe da verdade e da sensação. Eu preciso desesperadamente de me deslocar fisicamente, caminhar sem um objectivo determinado que não seja seguir instintivamente os meus olhos, os meus ouvidos e o meu cheiro. Este mundo está a tornar-se intolerante para criaturas como eu. Não tolera a viagem sem um destino definido, não pugna por nada mais do que fazer milhas para apanhar sol em praias cheias de gente. Ou então, ver a neve junto ás outras pessoas, guiados nos mesmos destinos e endereços. Eu não consigo. Eu comecei cedo na companhia de mais velhos vagabundos e não deixei de continuar. Quantas vezes o caminho não se faz apenas de mochila com algumas barras de proteína, água e uma máquina fotográfica, ás costas? Andar a pé até que nos toquem com o cotovelo e nos informem que já caminhamos há horas sem parar! Entre as ruas apertadas da Irlanda, a escutar as vozes femininas que fazem lembrar as feiticeiras da montanha, o frio nórdico e os mercados do norte de África, onde os meus olhos verdes, a minha pele clara e as tatuagens que já cobrem grande parte do meu corpo, são olhados com desconfiança e cobiça, subsiste a fome e a vontade de não olhar para trás. Esta é a minha definição de sentir. Isto é para mim o que o filósofo recitou como o nada que se preenche. O vazio que se habita.