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Photo: Johan Strindberg

 

 

Pelos dias onde a miséria se torna absoluta e presente? Três passos atrás. Por entre dentes, silvando em silêncio, resmungando tremores de frio. Sentado. De olhos cerrados. Longe do sol nascente. Dedos juntos em preces sem deus. Chora e agita-se. Em cada dia passado, alimenta a morte que nunca mais chega. Bastarda! Nunca mais chega e nem sequer precisava de bater à porta. Bastava  retirar as mãos dos bolsos mágicos e acenar.

 

Hoje? Mais uma marca. Nada a fazer e nada mais. Prostrado e calado. Olhar ao longe... em direcção ao solo. De olhos vermelhos e receosos. Dá vontade de abraça-lo e sussurar-lhe palavras de sossego. Mas, e porque a miséria não é realmente física, é antes quando a alma cede em lenta agonia, bebemos café tão negro e amargo como os pensamentos martelados e pregados a aço que lhe fustigam os dias. Fica o ardor na língua que não se agitou para falar. Permanece a vergonha pela incapacidade que temos para transmitir calor humano, esse mítico profeta de harmonia que nunca existiu, a não ser em sonhos. Ou não fossemos nós fios condutores tortos e disformes ...

 

E se pensa voltar atrás, talvez recuperar o que foi perdido, depressa desiste. Seria forçado a tragar toda a lama deixada pelos cantos caminhados. Antes aquietar-se em miséria. Esperando. Ombros descaídos.

 

... E a bastarda nunca mais vem!

 

 


2 comentários

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Bruno 07.06.2016

Simplesmente fantástico. Sublime retrato da miséria pessoal.
Lindo texto, linda descrição. Muito negro, muito pesado, muito triate, mas é fantástico.

Muito obrigado pela leitura.
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Rita 12.06.2016

A realidade é esta, os teus textos mostram isso. Uma realidade nua e crua, que não doí mas que significa.
Mais uma vez obrigada pelo teu comentário

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