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Michael Ackerman
A capacidade de sentir saudades é uma das maiores tragédias humanas. Sempre dolorosa, mesmo que, supostamente, alimentada por pensamentos agradáveis. Raramente misericordiosa. Frequentemente rancorosa.
Quando se misturam saudades com fugazes momentos de nostalgia vamos queimando recordações, morrendo um pouco de cada vez, suportando a promessa nunca cumprida, aspirando um pouco mais.
Recordo-me das saudades que me queimaram tão vorazmente nos dias em que a voz sinuosa não segredava a palavra "amo-te". A sua ausência é um labirinto que se precipita num vácuo indescritível para criaturas como eu. Como se torna possível uma mera descrição de um estado emocional, quando ausente, conter em si uma saudade tão latejante que se torna fisicamente dolorosa, nunca conseguirei entender. Como se consegue preencher o espaço vazio da fragilidade nascida desta necessidade de sentir que pertenço a algo sem me sentir ameaçado pela incredulidade, todos os dias me consome. Devora lentamente. Principalmente quando a noite se estende sem a presença de quem sei, seguramente, conseguir dar-me abrigo.
Mas talvez a saudade seja também o vigor daqueles que nunca ficarão realmente sós. Talvez seja mais um caminho seguro para voltar à casa distante, na companhia da nostalgia do sussurrar de quem acredita em mim.
Talvez a tragédia da saudade seja o preço que pago a quem ainda hoje acredita em mim.
Ainda que pague dolorosamente esse preço para escutar a melodia "amo-te".