Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A esperança é velhinha. Tão velhinha que prefere esconder-se dos olhos alheios, enquanto permanece silenciosa e surda para os dias que passam, como correntes de ar que prefere evitar. A esperança é velha e doente. Fraca e caprichosa.
Mas eu gosto de a procurar nos seus esconderijos. Gosto de pensar nela nos dias em que consigo ajeitar o tempo e descansar; nestes dias preciosos porque escasseiam em mim, sento-me nesta cadeira que abana sem ruído e pergunto-me por onde caminhará esta velha decrépita. Para o descrente pouco impressionado a esperança é um prazer raro, secretamente obsceno e escondido nas sombras da alma. Como uma presa debaixo do peso austero do predador, apenas por breves instantes respira e regressa taciturna, e eu gosto de lhe abrir a porta.
Às vezes são chaves que abrem a fechadura forjadas em estranhas alquimias; por vezes palavras escritas por punhos de aparência frágil que transformam Universos e onde ao longe, bem distante, brilha a centelha envelhecida de uma qualquer vaga esperança.
Ou então, no mero sacudir de sombras, rompendo o silêncio, invadindo os meus espaços com o estranho néctar da companhia. É neste labirinto que mais se torna dolorosa a esperança em mim, porque se afastam as horas sombrias que amo e surgem traços grossos de luz que vão iluminando outros caminhos. Vou abanando a cadeira assustado - porque a esperança em excesso personifica um rasgo doloroso na minha armadura.
Sentado na cadeira de baloiço silenciosa, gosto de envolver com os dedos a chávena de café densamente negro e a escaldar, enquanto escuto os passos esperançosos, em silêncio. Temo que qualquer som a faça abandonar-me para sempre. Receio não conseguir regressar à nostalgia de me sentar ao teu lado, junto ao mar, enquanto escutas o murmúrio das minhas notas retiradas do catecismo de sombras que tanto amo.
Nestes minutos raros e únicos no seu sabor sou um animal agachado que sente a leveza em cima dos ombros, ainda que sejam apenas breves momentos, deixo que sussurre ao meu ouvido as suas preces e feitiços.