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Ocorre-me, demasiadas vezes, a peculiaridade das coisas aparentemente frágeis, mas onde acabo dominado pela surpresa da sua força. Mesmo na minha ânsia quase insaciável por viajar, quando a persistência da vista, do cheiro e do sabor, me obrigam a escapar, envolto na companhia de uma ideia que não aceita paragens, já deixou de ser possível manter a indiferença de quem, outrora, chegava e voltava a partir sem remorsos. Essa falta de remorso dos que não se apaixonam já não existe em mim. Esse vazio que sempre cismei preencher com mais um destino é agora apenas mais um fantasma que me acompanha - inofensivo. A fome de viajante continua, mas agora já parto sem um vazio, porque encontrei a minha Terra. Uma Mãe carinhosa de braços abertos, sempre atentos aos meus eternos regressos.
Alguns chamam-me "escapista", desconhecendo a minha paixão e devoção. Pouco conseguem entender como podia eu estar morto, para todos os efeitos e consequências, eu estava morto, sem gritos, sem lágrimas ou uivos de frustração, com a única emoção de continuar a andar até morrer. A ideia era sábia - deixar que tudo acabasse, assim mesmo, sem tentar resistir de novo - sair de uma existência, como quem entra por uma porta e não a deixa aberta.
Mas então, e se o escapismo não for nenhum tormento?
E se, depois de escaparmos, houver um regresso, e o mundo não for o mesmo? Alguém me disse que podemos muito bem regressar com armas novas ( alguém me disse isso, algures ...).
Saudades...
São raros os dias em que não lhe sinto a falta, pelo menos duzentas vezes! Ruídos e estalidos; brancos e pálidos; cinza e chuva com gelo; e cores nos céus da noite!
São raros o meus momentos de repouso quando estou distante, com demasiada impotência, sou forçado a abandonar, afastar-me, apenas com a certeza absoluta de regressar.
É necessário. Pela minha sanidade. Por um beijo. Por um doce respirar que me sussurra um amor que nunca será merecido.