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* Der Spiegel ...*
Uma pequena veia altruísta parece assentar bem a quem passa e remói a piedade pelos indignos da vida. Quem se arrasta pelas ruas durante a noite, assaltando o lixo deixado por outros e alimentando-se de pão cravado de pontos verdes, entre os restos que nem a bancos de alimento interessam.
Os pequenos altruístas sentem o coração apertado entre as garras da consternação e do desassossego por mais aquela fatia de bolo e porque a mão estendida não aparou o ar do arroto de satisfação. Não se procure justificar o estômago distendido dos pobrezinhos com comparações desleais: uma coisa é o pequeno remorso diante o desdentado sujo, outra é a pança ruminante da refeição faustosa artilhada com a ilusão de peso a menos no ginásio da esquina.
A pequena veia altruísta espremida até ao limite senta-se de braços abertos e pernas esticadas na cadeira da subjugação. Uma minúscula arte que submete todas as considerações reduzindo-as a pequenas maquinações que nem sequer perturbam o sono. Aceno de piedade sem esbanjar. Solidariedade rapidamente esquecida no passear do telemóvel.
Gosto de ver o pacote de massa barata unida ao leite orgulhosamente oferecido pelo puto a mando da mãe sorridente por mais uma contribuição altruísta, enquanto cola as mãos na cintura generosa. Junto ao carrinho de metal atafulhado de cereais, bolos em promoção e congelados a verter água. Enquanto a pequena miúda saltita satisfeita com um enorme chocolate roxo nas mãos.
Confundir generosidade com altruísmo é necessária panaceia. Um pequeno bálsamo para sossego e esquecimento pessoal que se faz tarde e é hora de jantar.