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" Está morto: podemos elogiá-lo à vontade. ",

Joaquim  Machado de Assis

 

 

 

Toda a gente morre. É ponto assente e lugar mais do que comum. Estou na mais perfeita, absoluta harmonia e concordância com quem defende as virtudes de colocar um fim na sua própria existência como assim o desejar e sem a necessidade de recorrer a desculpas fúteis ou autorizações de ninguém; que sempre terminam em banalidades e incompreensão.

 

 

 

Sempre me pareceu óbvia a noção de que desde o momento em que começamos a respirar o único e verdadeiro direito que possuímos e ao qual nada, rigorosamente nada, se pode opor é o de morrer quando assim entendermos. Existem maneiras do exterior prolongar a nossa existência com o nosso assentimento. Já não é tão verdadeira a ideia de que esse exterior pode impedir a nossa decisão de terminar; pode, no mínimo, evita-lo durante alguns dias, meses ou até anos. Mas tomada a decisão pessoal nada nos pode abortar esse direito e comando. Religiões, estados e leis já o tentam desde o início. Em vão. É um direito pessoal e de quem comanda.

 

 

 

Mesmo que paralisados e sem movimento existe na mente força suficiente para nos levar a definhar; apenas se morre mais lentamente e em maior ansiedade.

 

 

 

É apenas de ordem pessoal. Cada um decide e apoia como assim o entender. Não o nego. Mas é uma noção e realidade absoluta. Por mais que se tente pensar o contrário.

 

 

 

Por isto se torna para mim um exercício de comoção e algum humor leve - que este já de si é tão raquítico - adivinhar o que irá suceder em tempo real cada vez que uma figura dita socialmente mais relevante decide desaparecer. Nada se  torna mais previsível do que o sussurrar e o choro fino dos acenos perante tão generosas pessoas; sempre e sistematicamente maquinal pontuado pelo facto de estar a desaparecer uma grande pessoa que muito deu a este mundo cruel e frio. Como se quem assim o decidiu se importasse.

 

 

 

A dor e a desilusão acabam sempre por ser calibradas em função do método escolhido. Quanto mais vistoso maior é a onda mediática; mesmo que a vida do outro tenha passado ao nosso lado sem darmos por ela. Compreenda-se pois estes últimos meses de tormenta suicida e perante tamanha procissão de enforcados.

 

 

 

Entenda-se ...

 

 

 

Talvez fosse melhor guardar tudo isto em gavetas e cadeados. Aguardar antes a crueldade do desaparecimento presencial dos que realmente nos dizem algo. Nestas ocasiões e estranhamente, nunca parecemos dispor das palavras e gestos necessários para explicar esse vazio.







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