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* Sintomas do Universo ... *
" O meu gato Morfeu é velho de muito ver. Sabe da vida dos pássaros e dos beirais onde descansam os seus ninhos; sabe dos insectos que escorrem pelos vidros da janela quando o sol ilumina de esguelha a casa; deixa que o olhar se perca no horizonte longe das estradas e ruas assombradas desde cedo; nada sabe de lógica milimétrica e muitas vezes parece não resistir a um bocejo, perante a minha ideia de que para os gatos o tempo parece ter parado; prefere a escuridão sem o peso do luto; sabe que dar demasiado irá alimentar o arrependimento, mas quando nos meus dias de céu carregado e sem chuva eu me canso de mim próprio, nunca parece arrepender-se de me ensinar a fugir do caminho da orfandade. "
" O outro gato chama-se Sigma e a alvura do seu pelo é aterradora. O silêncio companheiro deste gato cego de um olho é tão espesso que me deixa pálido; diante da minha previsibilidade reúne todos o momentos de ternura e protege-me como um abrigo de tempestades; existe nele algo semelhante a um livro a ser escrito com silêncios e paixões de tantos lugares; também parece não acreditar nas geometrias humanas e creio firmemente que me conhece demasiadamente bem; sabe como as ideias podem envelhecer dentro da cabeça bem mais depressa e antes de poderem ver o mundo e do confundir de segredos com identidades; sabe que confio demasiado na memória de cinzas, páginas em branco e cicatrizes, mas parece discordar em arrogância com a minha solidão. "