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  Foto:  Stastie

 

 

* Sintomas do Universo ... *

 

 

Soube da morte do velho merceeiro há poucos dias. Estranhei a ausência dos seus passos indolentes durante as últimas manhãs, habituado a ver a sua passagem durante o meu ritual matinal antes de adormecer. Também estranhei ver a velha mercearia enfiada entre dois prédios altos  de entradas circulares onde o velho merceeiro assentara arrais desde que a eternidade se lembra, fechada.

 

Sei que se apagou para os lados da baixa lisboeta e de uma maneira rápida e eficiente; como se a morte tivesse sentido de dever e a hora do velho largar amarras chegara. Caiu fulminado e sem um gemido, dizem.

 

Há uma displicente perda na sua ausência e passar de manhã bem cedo em direcção à mercearia. Uma brisa de conversa que mantínhamos entre os biscoitos de canela com geleia da terra oferecidos e nos cafés em chávena a escaldar que eu transportava para dentro da loja. Uma ligação que não passa por palavras óbvias enquanto percorria os labirintos entre taças de plástico, garrafas de vinho e uma arca de frio que sempre tinha para mim os congelados mais bizarros. Deixar que os odores do tempo dos morangos e das maçãs verdes se misturasse com as laranjas pequenas de sabor cristalino.

 

Ouvir o que contava a sua consciência entre palavras de quem avançou sem muitas letras lidas e mesmo assim rebaixando muitos que sabem ler sem ver a imbecis, só era superada pela claridade que entrava a jorrar pela mercearia mesmo em dias de escuridão chuvosa.

 







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