Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



 

Mesmo para quem se deixa encantar por uma certa solitude, necessária, para restabelecer harmonias internas, ainda que sejam preciosos os momentos cultivados pelo silêncio, esse estranho culto sem palavras, mas muitas vezes imenso de expressões primárias, o afastamento de algo assume o sabor de um vazio doloroso. Creio que muitos lhe chamam saudade; outros nostalgia - como se fosse necessário articular um nome que pelo menos sossegue a alma,  que consiga encher um pouco de espaço ocupado pelo vazio do que já não está perto. 

E talvez até seja um engano cismar com algo que se afastou, mas é a ditadura de natureza humana não aceitar espaços ocos, vazios e por preencher. É um absurdo violento observar o afastamento, enquanto, desesperadamente, olhamos em volta, mergulhados numa sonolenta imbecilidade que aceitamos como natural perante a ausência. Nem sequer será muito diferente para quem se recusa ao amontoar das gentes, mas é igualmente doloroso cada um destes raros afastamentos - porque não são frequentes os prazeres da companhia para certas criaturas, o distanciamento é revelador da incapacidade de conjugar a alquimia que consiga alimentar a certeza de que tudo continuará como sempre.

Não. Nunca irá ser como foi.

O que se afasta deixa apenas passos, palavras, sorrisos e até uma atmosfera de companhia que não voltarão a nós. Misture-se, com uma sabedoria odiosamente ancestral, a incapacidade de os substituir ( por mais que se tente), a falsa verdade de que o tempo tudo corrige, que o mundo está cheio do encanto dos que partem e dos que ficam, e tudo o que resta é beber deste veneno de morte lenta.

E a vontade de rir com a teoria sonhadora de que o Universo sabe o que faz.

Deus! ...

 







topo | Blogs

Layout - Gaffe