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Não consigo deixar de sentir que é um privilégio, nestes dias de hoje, escutar uma estória. Principalmente se aquecidos por um fogo áspero e quente e diante de uma noite que se alonga na escuridão. Escutar! Porque quem verdadeiramente conta uma estória não deve ser apenas ouvido. Escutar é muito mais do que a mente nos diz. É a essência que se entrega e deixa conduzir.

 

Quando a voz se ergue grave mas sonhadora, entre pedaços arrancados a reinos distantes por onde pernoitam almas que não descansam e pensam estar vivas, só um silêncio sepulcral consegue resistir. E quem narra por palavras o que muitas vezes deveria permanecer escondido sabe como se pode descrever a fome dos dias passados entre o gelo amigo de um abraço ou o calor incandescente do sorriso de uma criança, essa estranha e impossível criatura que eu já fui. E deixei a porta aberta para que fugisse.

 

E em maravilha, ainda que ornados por lendas de outras eras, enquanto prosseguimos pela noite dentro sem vontade que termine, uma voz de mulher enche o que se conta com rasgos fugidios, estremecendo onde o sangue se deixou escoar, trata-se de querer - não! muito mais do que desejar - exigir! que a eternidade dessas noites de estórias ao relento batido pelo fogo da madeira que respira calor se mantenha imutável.

 

Eu quero vaguear por auroras tão antigas que apenas as estrelas se lembrem da queda dos anjos. Quando os gritos eram escutados entre as notas dos grotescos flautistas que dançam e embalam o sono do Caos primordial - porque se ele acorda, dizes em sussurro, tudo estará acabado.

 

Permanecer em névoa enquanto os caminhos da terra são palmilhados pelas botas cardadas de um deus meio cego fugindo da ânsia devoradora dos lobos irmãos. Sentir que em cada palavra que rompe o silêncio uma verdade poderia ter sido escrita em mim. Deixar-me embalar nos contos de noite. Entre tragos que sabem a fogo e ateiam chamas ao coração. 

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