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Existem criaturas cuja velhice se enamorou de uma qualquer sólida árvore. Um carvalho, talvez. Duros. De uma persistente capacidade de resistir à monção dos dias. E o orgulho de qualquer sábio carpinteiro, porque tudo o que contam se tornou maleável ao sonho antigo. Ao pontuar de palavras roucas e suspiros cansados.

 

São raros. Mesmo entre velhos muito velhos. Tomos de uma obra que força o silêncio e respeito. E que choram. Lágrimas como outros muito velhos. Ainda assim nunca iguais. Ainda assim únicas.

 

Conheço uma criatura já muito antiga. Enamorado na antiguidade das árvores seculares, por estes dias, neste seu entardecer da idade, sei que chora. Um gemido surdo, coroado por um silvo suave, que parece arrastar-se com a ligeireza daquele vento que dança entre os ciprestes húmidos do seu jardim. Agora aparecem mais vezes os ventos do Outono. E chorar parece ser agasalho e serenidade.

 

Tenta cobrir os olhos húmidos com os óculos de lentes grossas. Com o fumo espesso do cigarro eternamente presente. Mas é doloroso ver chorar a fragilidade épica. Sabendo que anseia o fim enquanto se vai banhando na saudade tão intensamente dolorosa de quem foi antes de si; resistindo na tremida luz de um dia chegar ao céu e voltar a juntar abraços.

 

Esperança.

 

Este viver, este resistir aos anos, dormindo na solidão mais sinuosa onde em cada passo regressam memórias, onde ainda é necessário reter pingos de sanidade para não sentir odores queridos, apodreceu qualquer fruta desta velha árvore. As lágrimas são apenas as últimas notas de um fim que espera há muito. Uma traição aos últimos traços da sua paciência velada.

 

Ainda assim força silêncios e reverências como os velhos carvalhos a rachar entre tempestades e neves. Silêncio e assombro. No meio da tantas outras árvores tão verdes e perfumadas.







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