Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



 

 

Uma das mais raras virtudes do ser humano consiste no reconhecimento tácito da necessidade de desaparecer; é tão rara esta virtude, tão absortas estão certas criaturas na sua ânsia de não deixar que se apaguem os seus sonhos, que o esquecimento do que são e já deixaram de ser transforma os poucos anos que restam da sua vida numa paródia - uma ingénua natureza morta.

 

Há quem já esteja morta há anos. Existe quem seja sábio ao extremo de reconhecer que as cortinas baixam e urge que se retire com a elegância artística do velho anjo ou demónio. Mas na decrepitude mais estúpida se manifesta, sistematicamente, o mais ardente dos fanatismos sonhadores; numa bizarra incapacidade de ultrapassar a incoerência vegetativa, certo é o abraçar final do estado verminoso: último espasmo que garanta alguma sobriedade perante o cair do pano.

 

Quem se recusa a aceitar o desvanecimento mesmo diante do patamar do que foi a sua já longa vida, perante as virtudes da realidade do seu passado inútil e de estéril importância para os que vivem ao pé de si, persiste na mesma naquele furor imbecil descrente de hierarquias e topos, onde jamais ascenderá - apenas poderá sonhar com a sua própria consciência de verme, incontáveis vezes profanada por elites intocáveis.

 

Sempre farejei a podridão nos que aguardam no mais escuro buraco enquanto vão sonhando distracções alheias,  na sanha de uma pequena dentada que seja no calcanhar dos titãs. O fedor do símio covarde sem um pingo de vigor moral que se imagina policia de virtudes, insultando e difamando quem nunca lhe será semelhante, consigo sentir a quilómetros. O raquitismo mental de quem ousa vestir a túnica da inocência e foge acossada como uma sanguessuga tentando apagar todos os seus traços no meio da mais vasta sujidade, já há muitas luas deixou de me espantar - apenas provoca um imenso bocejo de reconhecimento ... E sola da bota suja.

 

É imediato o meu reconhecimento da criatura que se recusa a aceitar a derrota. Persiste na visão míope de que não existe um pé que lhe esfrega a face desgastada por anos de incompetência existencial, na sua própria saliva imunda; um ser sombriamente cretino vislumbrando o próprio Seppuku e que ainda assim, mesmo assim,  recusa fechar os olhos.

 

Guardo um rancor muito brilhante ao verme delator e mentiroso que apenas progride nos seus já  escassos dias de luz com a falsidade das palavras e obscenidades das  ratas de esgoto.

 

Cultivo com paciente amor e carinho um ódio de estimação a certos erros respiratórios. É quando o velho verme se vitiminiza nas graças da inocência e cai no atrevimento de imaginar que algo no Universo se importa consigo, que mais gosto deste ódio. Como ferve e borbulha.

 

 

 


4 comentários

Imagem de perfil

Sarin 10.08.2019

Uma ode à decadência do que nunca se elevou na rasteira inquietude da própria inutilidade.

Palavras bonitas para quem nenhumas merece.
Imagem de perfil

Fleuma 11.08.2019

Infelizmente não adiantará, sei que nada mudou.

Continuará exactamente da mesma maneira - foge das responsabilidades, fecha blogs porque não tem capacidade de resposta e mais uma vez foi humilhada.


Mas não resistirá e sei que voltará a aparecer. Mesmo nunca mudando aquele tom e maneira de agir.
Sem imagem de perfil

Isa 19.08.2019

Estou aqui a rir-me, caro Fleuma, imaginando a cara da criatura ao ler este teu texto, e por isso te agradeço, na medida em que há muito já não me ria assim..))

Pega lá abraço!
Imagem de perfil

Fleuma 20.08.2019

E eu que sempre vou pensando que a senhora se redime e cansa de ser açoitada... É que não se trata de uma porca sorte! Trata-se de estar destinada a fazer merda e a receber punição.


Pode ser que finalmente agora entenda e se retire.

Pois...

Pega lá beijo!

Comentar post







topo | Blogs

Layout - Gaffe