Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A palavra.
Falar é fácil. Dominar a oratória requer a disciplina e o método que tornam o som das palavras no discurso. Discursar, discutir, nunca me soaram a arte - mesmo sabendo que tal nos afasta de todas as outras criaturas.
Sempre procurei a palavra escrita. O traço e a expressão. O verbo. A frase escrita que carrega em si todo o portento capaz de me silenciar; carregar o meu silêncio como a mais sincera homenagem.
A escrita é o próprio silêncio. A solidão na ausência do som. Os meus olhos, o teu cheiro e o teu respirar, nas palavras escritas. O alimento na ausência e na saudade. A marca que não se desvanece no desaparecer das horas - como se desvanecem os sons.
Não pertenço ao universo daquele texto. Mas caminho como um fantasma entre as lembranças e as lágrimas do punho que solta a escrita. Quando cai a noite estou junto ao candeeiro que se desliga; onde o caminho se faz em silêncio, entre os ares frios da manhã agreste e o primeiro olhar para o dia que se transforma em escuridão, eu consigo estar presente. Quase pertencer - enquanto crescem as frases, o feitiço permanece.
Sou um animal que procura atmosferas, sempre distantes se faladas. Universos - apenas possíveis por estranhos dotes alquimistas. Mundos descritos na escrita coroada pelo meu silenciar.