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Eu ...

 

(999)

 

Todos nós vivemos um Inferno pessoal. Refugiados na inocência ilusória de pensar como se torna importante esconder a angústia, a indiferença mais absurda perante a nossa falta de beleza e o mais subtil dos reconhecimentos, a mais clara das noções. Sofrer é quase uma lei cósmica protegida pela iniquidade de um qualquer deus que apenas existe para o justificar. Por dentro as nossas crianças são fantasmas - aquelas pequenas cobiças que imaginamos pertencerem à nossa beleza interior, ao virtuoso acto de queremos ser belos e encantados. A uma extrema necessidade de pertencer a algo. E comandar algo.

 

Não existe realmente calor num Inferno pessoal.

 

E porque haveria de ser assim?

 

O meu Inferno alimenta-se da minha falta de beleza. Sobrevive em mim nos caminhos que escolhi. Estende a mão aberta para me erguer do solo porque aprendi a aceitar o que sou. Caminhos que sempre escolhi.

 

E é sempre estranha esta sensação que surge - primeiro na ponta dos dedos, sem barulhos. Um reconhecimento tácito de que sou violento comigo próprio, raspa suavemente na porta da realidade. Depois um segredo, sussurrado ao ouvido atento transforma os dias de falta de beleza, incapacidade de rir em todos os momentos, num labirinto. Creio que é por estes labirintos que percebo insignificâncias ensopadas nas pequenas glórias de mais uma vitória.

 

Deixei de contar quantas foram as vezes em que promessas foram quebradas. Como se tornou preciosa para mim a palavra confiança. Quantas foram as vezes que cimentei um certo Inferno pessoal - que é sempre minha culpa. É sempre culpa nossa.

 

Ao ponto de aceitar e até aprimorar a arte de entender os poucos que me olham com olhos de beleza. Inexplicavelmente, acho que se trata de aprender a conviver com demónios pessoais.

 

Iluminados por estes dias com o sonho de que estão domados. Amansados na ilusão de que sou importante para alguém.

 

 







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