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"A única confissão sincera é aquela que fazemos indiretamente - ao falarmos dos outros.“
Emil Cioran

 

Eu sempre olhei para ele como o aproximar de uma tempestade, quanto mais próximo mais perfeita se torna.  Nunca houve em mim esse principio de cultivar a ideia do culto, transformar algo e muito menos alguém num objeto de adoração intocável. Todos rigorosamente todos são imperfeitos e incapazes, por mais admiração que exista. No entanto, havia dentro dele uma tempestade em torvelinho, um método de loucura quase a cheirar a niilismo descompensado e despreocupado. Uma escuridão saturnal que facilmente assustava porque demasiadas vezes se tornava espessa e impenetrável.

A minha atenção repousava teimosamente no seu sentido de humor que manipulava com a arte de quem possui algo em si como força natural e por isso domina como respira - eloquente e capaz de me provocar o riso. Um demónio de ironia por vezes tão áspera que tornava esse sentido de humor numa sinfonia profana e solene. Surgia como um fantasma, por espaços e repentinamente, rasgava-me a face em traços de descanso descontraído, e logo a seguir desaparecia, deixando-me coberto naquela fome de quem se sabe incapaz do riso fácil e libertador. Havia algo naquele sentido de humor escurecido que conseguia caminhar de pés descalços com a minha dificuldade em aceitar graças irónicas. Rasgava os instantes mais sérios e abria as portas ao pensamento mais iconoclasta que se atrevesse a cruzar a minha mente naqueles dias.

Cruzei muitas vezes os braços. Inclinei as costas para trás na mais submissa das pacificações, enquanto  escutava os seus rasgos implacáveis, tantas vezes em partilha com outros igualmente detidos. 

Nunca imaginando que um dia iria perseguir um fantasma.

(Fleuma)

 

 

 







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