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Certos locais de escrita são como pequenas candeias que iluminam as noites mais escuras, por vezes fora da nossa rota, apenas visíveis aos que caminham e pressentem os seus ventos distantes. Porque nesses locais de escrita a palavra soa-me a outro vento que poucas vezes senti. É estranha esta virtude que mora nos dedos de certos, a estranha capacidade dos que caminham entre labirintos sem temor de locais ermos e escuros, o seu desapego - este mesmo sabor - sempre foi para mim uma fonte de obsessão, uma porta para o outro lado.
Descobri que em certos locais de escrita as minhas chaves de portas são forjadas no metal cristalino da Saudade e da Nostalgia, que não interessa se é manhã ou entardecer, sequer se é noite de chuva. Que alguém não olhou o monstro em mim e simplesmente estendeu palavras escritas como dedos esticados entre sombras - sem medo dos dentes escondidos.
Certos locais de escrita quando trancam as suas portas deixam no ar a memória de uma casa iluminada por um sol terno do inicio de Outono, banhada em claridade aconchegante. Apetece aspirar os seus sonhos e passos distantes, deixando cintilar a certeza de que uma nova solidão mora agora nesses raros locais.
O caminhante carrega essas memórias fechadas em si.
E é estranho o seu sabor.
(Fleuma)