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... Enquanto vai ventilando a sua raiva quase não consigo resistir ao impulso de cruzar os braços à volta do peito, como quem assiste ao desmoronar de um muro de convicções sonhadas sem mexer um músculo. Talvez sejam necessários para mim estes instantes finais de um fogo a extinguir-se nos olhos de outra pessoa. Não essa extinção que termina a existência - já a observei ruminando sobre a livre vontade de escolha e não senti qualquer desejo de cruzar os meus braços junto ao meu peito. É a chama que se apaga no brilho do olhar antes afogado naquele ardor de quem imaginava saber tudo. A fluência que abundava nos olhos e que transformava os juízos em simplificações para ocupação dos dias arrastados, essa coisa assimétrica a que o observador astuto assiste, esse brilho no olhar que se torna opaco quando descobre o erro tem a potência de um monólito a partir com estrondo. E afinal não somos templos vivos? E afinal os templos vivos também se extinguem na constrição destes raros instantes.
... Talvez este extinguir de convicção no olhar até seja um reclinar meu para a necessidade de sobreviver mantendo a minha chama acessa, mesmo que este sintoma transpire arrogância e orgulho pessoal. Eu sei que mantenho este fogo. Sei porque antes ele não estava vivo. Sei porque antes não havia calor apenas aragem fria.
... E de súbito, entre a raiva de quem sempre julgou conhecer os nossos passos ao pormenor e a surpresa de quem não sabe o seu caminho de regresso, somos perfeitos desconhecidos para outra criatura.
(Fleuma)