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 Imagine-se o insuportável de saber tudo. Do conhecimento total e absoluto. Sem que restasse uma pinga de ignorância sadia e por descobrir. Absorver a certeza de nada mais existir para alimentar a gula de conhecer. Imagine-se a certeza absoluta como um fardo e castigo porque os olhos foram abertos e se acabou o espanto das ilusões por descobrir.

 

E a consciência absoluta, fria e resoluta, de que todos são sábios; a certeza sem erros ou hesitações de que quando a outra face se voltou enfadada e já sem paixão, traçou o caminho sem regresso. Pensar por antecipação perfeitamente confirmada nas palavras de amor que serão articuladas em sussurro, adivinhando porque são ditas sabendo que amanhã não farão sentido.

 

Quando a imaginação deixa de florescer entre as águas do descobrimento, imagine-se no leito de morte, o fardo insustentável de conceber tudo como aprendido e provado. Que Deus foi uma mentira nas mãos de todos e nunca um farol de luz entre as estrelas; mitigar a fome da desilusão no consolo de tantas viagens e encontros na mais absoluta escuridão.

 

Antes de fechar os olhos cansados, sabendo que será mais uma noite de sono, conhecer sem nenhum dos rigores que fustigam a dúvida, o dia de amanhã: igual ao de hoje e de ontem; com as mesmas vozes e batidas, entre as acções semelhantes e sempre, inevitavelmente, com a mesma neura mestra em pragmatismo depressivo. Porque seriam os dias sem necessidade de cálculos, já que ninguém cometeria o erro de errar. Não se levantaria uma mão; não se entregariam as palavras ao praguejar e deixariam de ter importância as mãos de conforto com um sorriso na face.

 

E o pensamento já não seria feito de sonhos. Porque já tudo tinha sido sonhado.

 

E mesmo a morte já era enfadonha e prevista no seu mais intimo detalhe.







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