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No velho cardápio de atrocidades cometidas contra as emoções, o humor é um dos mais visceralmente retalhados. Uma emoção que deveria permanecer cristalina e sabiamente trabalhada, polida e afoita na sua convicção, transformada em descampado de entulho.
Porque deixemos qualquer sofismar: a maior parte das criaturas supostamente racionais que pulula debaixo deste sol não tem graça. Nenhuma graça.
Isto é ainda mais persistente para alguém como eu cujo o sentido de humor nunca se revela particularmente frequente e por isso mesmo é tão rapidamente visível esta brutalização. São escassos os iluminados que conseguem despertar em mim a veia do riso rasgado. Porque possuir a dádiva do humorismo não se revela nas expansões de uma grande maioria que imagina humor com a boa disposição da palhaçada geral; onde todos devem ceder às graçolas infantis. Lamentavelmente, é desconfortável para mim ser forçado a suportar a falta de graça.
E é o despenhar mais absoluto, a mais firme e inominável imbecilidade, quem não tem um centímetro de graça, sujeitar a nossa já caduca realidade ao conspurcar do universo irónico. O anátema mais cretino, vil e despropositado de quem se encarrega de transformar o riso num mero esgar risus sardonicus estremece toda e qualquer lei de bom senso, pela mera profanidade de tentar juntar ao humor a ironia. Só um traidor humanóide cujo secreto lema seja cilindrar a pouca tolerância existente, se delicia a assassinar a fina e rara arte do humor irónico. Bem tentam: escrita em piadolas incoerentes dançando destemidos na ilusão da ironia. Seguidos por um parco séquito de iguais pigmeus a bater palmas a quem não tem graça. Apenas por amizade e espírito de cretino.
Uma falha minha. Reconheço. Limitações na minha engenharia não permitem laivos muito extensos ao humor. Sou incapaz de sentir emoções perante o castiço supostamente engraçado do vernáculo alheio; piada escrita em televisão, rádio e principalmente ao barbarismo da criatura comum que tenta a ironia humorística no pequeno blog.
Crucifico a minha consciência. O pouco acesso de riso que é da minha propriedade vai para o inquinar de uma sóbria minoria que como eu venera o humor seroso, fleumático, sem dúvida, que procede de modo maquinal ao destroçar da maioria inferior. Utensílios de destruição maciça? Ironia e humor negro. Inatos. Sempre inato e impoluto.