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No velho cardápio de atrocidades cometidas contra as emoções, o humor é um dos mais visceralmente retalhados. Uma emoção que deveria permanecer cristalina e sabiamente trabalhada, polida e afoita na sua convicção, transformada em descampado de entulho.

 

Porque deixemos qualquer sofismar: a maior parte das criaturas supostamente racionais que pulula debaixo deste sol não tem graça. Nenhuma graça.

 

Isto é ainda mais persistente para alguém como eu cujo o sentido de humor nunca se revela particularmente frequente e por isso mesmo é tão rapidamente visível esta brutalização. São escassos os iluminados que conseguem despertar em mim a veia do riso rasgado. Porque possuir a dádiva do humorismo não se revela nas expansões de uma grande maioria que imagina humor com a boa disposição da palhaçada geral; onde todos devem ceder às graçolas infantis. Lamentavelmente, é desconfortável para mim ser forçado a suportar a falta de graça.

 

E é o despenhar mais absoluto, a mais firme e inominável imbecilidade, quem não tem um centímetro de graça, sujeitar a nossa já caduca realidade ao conspurcar do universo irónico. O anátema mais cretino, vil e despropositado de quem se encarrega de transformar o riso num mero esgar risus sardonicus estremece toda e qualquer lei de bom senso, pela mera profanidade de tentar juntar ao humor a ironia. Só um traidor humanóide cujo secreto lema seja cilindrar a pouca tolerância existente, se delicia a assassinar a fina e rara arte do humor irónico. Bem tentam: escrita em piadolas incoerentes dançando destemidos na ilusão da ironia. Seguidos por um parco séquito de iguais pigmeus a bater palmas a quem não tem graça. Apenas por amizade e espírito de cretino.

 

Uma falha minha. Reconheço. Limitações na minha engenharia não permitem laivos muito extensos ao humor. Sou incapaz de sentir emoções perante o castiço supostamente engraçado do vernáculo alheio; piada escrita em televisão, rádio e principalmente ao barbarismo da criatura comum que tenta a ironia humorística no pequeno  blog.

 

Crucifico a minha consciência. O pouco acesso de riso que é da minha propriedade vai para o inquinar de uma sóbria minoria que como eu venera o humor seroso, fleumático, sem dúvida, que procede de modo maquinal ao destroçar da maioria inferior. Utensílios de destruição maciça? Ironia e humor negro. Inatos. Sempre inato e impoluto. 

 

 


8 comentários

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Gaffe 02.02.2018

Eis anunciado e enunciado o meu pavor.
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Fleuma 02.02.2018

E a paciência que me acompanha é tão anã ...
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Gaffe 02.02.2018

O que significa que a forma como me olha, me vê, me lê, é de igual tamanho. A mim, que sou o que descreve.
Desgosta-me, meu querido Fleuma.
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Fleuma 02.02.2018

A terna e sempre vaporosa Gaffe sabe perfeitamente que a minha mais firme virtude é a necessidade imperiosa de conviver apenas com gigantes? Até o seu gracejar nada tem de anão.

Como a olho, leio ou vejo creio não ser recomendável que o diga. Sabe que a elegância elevada não é apanágio da minha casta. Seria demasiado. Mesmo para si, Gaffe.

Mas terá de me desculpar. Não podemos ser todos elegantes cavaleiros.
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Isa 02.02.2018

"Seguidos por uma parco séquito de iguais pigmeus a bater palmas a quem não tem graça. Apenas por amizade e espírito de cretino."

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!





(E até posso estar a ahahahahazar de mim mesma, mas caguei. "A César o que é de César", como disse não sei quem, nem me interessa, que detesto reter info inútil).
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Fleuma 02.02.2018

Como já estarás recordada, eu mais do que uma vez afirmei em comentários no teu poiso, que pura e simplesmente não consigo reter o riso com alguma da tua escrita.

Porque gostas de inquinar e a ironia só te fica bem.

Ainda me pergunto como o consegues e sempre surpreendes, mas creio que sendo inato, não se explica.

Não cara Isa. Podes ahahahahazar porque a quem se dirige as minhas palavras saberá dos meus estranhos humores.

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Isa 02.02.2018

Estou sim, Fleuma, estou sim, e é um agrado enorme saber que consigo desenhar um sorriso em alguém, sobretudo nos alguéns que prezo.
E tens razão, não se explica. Posso simplesmente dizer-te que quando quero mesmo ser irónica, tenho, antes de mais alguém, rir eu.

Ahahahazar de mim não é - não seria - mau. Se há coisa que faço amiúde é relativizar-me e/ou redicularizar-me, tentanto encontrar o meu espacito entre os biliões de punzitos de estrelas ( adoro quando anoiteço romântica) que somos todos nós. Muito raramente me levo a sério e apesar de bem mais de metade do que escrevo dê pra fazer uma bela de uma chouriçada, estou contigo; fico verdadeiramente decepcionada com ao que alguns chamam de "humor".Imagino-os sempre de sorriso de orelha a orelha, impressionados com eles mesmo devido à côr do cocó acabado de digitar, e que, curiosa e tristemente, parece apresentar-se-lhes com um brilho fulgurante. Como uma empada barrada a gema de ovo, acabadinha de sair do forno.

Pega abraço!

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Fleuma 03.02.2018

Não conseguiria dizer melhor!

Abraço agarrado!

Saúde,

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