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A promessa cumprida é salvação. É uma casa e um porto que abriga o cínico desiludido. É como uma porta estreita, que por vezes boceja enfastiada, deixando que entre o descrente. E porque depressa se aborrecem, as promessas são aquele estranho, quase impossível canto sussurrado, encantando a criança ao sono, pelos sábios lábios de quem conhece a arte do embalo.
São muitos os que prometem. Poucos os que cumprem e ficam. Menos ainda, quem entrega a sua mão sem medo de monstros. Talvez porque existem promessas que são pactos forjados, tecidos por certezas que sempre me deixaram aquele deleite quase blasfemo, estranho, de libertação. Uma forma de iluminação que me força a vergar - a dobrar os joelhos rendido.
Sei muito de promessas não cumpridas nas noites em que os caminhos são percorridos sem os sons da certeza. Da mesa vazia na escuridão e de quantos batimentos são precisos para esquecer o prometido. Sei do silenciar de mais um discurso e da ausência apenas real porque os pensamentos nunca me atraiçoaram. Do sabor agreste que cobre a mais pequena das desilusões com melodias, notas, que vão assassinando lentamente. E é possível escutar o rasgar de mais uma promessa não cumprida. E é necessário espaço para mais uma cicatriz.
Reconhecer uma promessa verdadeira é sentir-lhe o sabor, a doce tentação de baixar os braços, por instantes seguir os seus caminhos e encantos. Chegar e sentir o caldo reconfortante de uma voz. Um odor. Um respirar. Uma palavra suave e apenas escutada por mim.
Talvez seja tão belo porque é raro. Talvez porque eu seja demasiado inacabado. Incapaz de me guiar por tantos sinais e luzes que me assustam.
Ou talvez porque gosto de prometer e cumprir.
Até ao fim.