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O senhor musgo sempre pensou que seria grande. Um dia imaginou que o seu tamanho seria importante. Que importaria aos outros. Que as suas emoções eram o que bastaria para a vida - existir que antecipava, seria aspergido pelos doutos ventos da sorte. Esta nunca madrasta. Sempre mãe terna e atenta.
O senhor musgo escorrega liso e vagabundo entre as frestas estreitas, enquanto sonha descansar a cabeça em seios de opulência decadente. Em pensamentos anseia pelos braços assertivos de uma matrona em candidez serviçal. Sonha ...
O senhor musgo, em plena consciência e faculdades, queria acenar um adeus épico - embora lamentoso - à sua lastimosa falta de grandeza. Que de grande pastor nada tem. E como musgo que é, crê que nem sequer está nos primeiros lugares para a propensa glória. Mas tem a consciência do que é. Entre acessos de raiva e espirros de vil constatação tem a consciência pesada.
O senhor musgo não aceita e não nega. As suas crias são pequenas criaturas mimadas e exigentes. Esfrega, placidamente, a noção em comoção: a sua companheira é uma bruxa. Uma cretina em distopia que o senhor musgo carregará para toda a sua vida!
Mesmo que se ajoelhe e levante os braços aos céus, o senhor musgo não pensa em salvação. Interiorizou a sua descrença em deus, mas ergue os braços para as nuvens porque assim lhe foi ensinado. Não porque seja humilde. Mas porque necessita da piedade alheia.
É um musgo diferente: não anseia pela pacificação do silêncio. Como deveria ser realidade de qualquer forma de musgo que a mãe-natureza cuspiu. Vivendo dependente da bruxa que o repreende e insulta todos os santos dias da sua porca vida! O silêncio mata o pequeno musgo. A humidade rançosa da prole consome-lhe a vontade - que de grande nada tem. Apenas possui a arte da guerra da uma trepadeira seca e decepada.
Porque não termina com a sua vida, o senhor musgo?
Porque se petrifica com o silêncio. Porque ainda almeja algo. Uma luz ao fundo de um túnel de terror.
Um pedaço de musgo carente que se indignou. A sua vida não foi justa. Não lhe foi concedida justiça.