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Eu ...
Norte ...
(999)
Quando terá sido a última vez que um estranho, olhando para mim, não tenha permanecido com aquele sentimento que persiste após observar algo bizarro? Como se procurasse evitar-me e ao mesmo tempo, cedendo à tentação de ser polido e educado, tudo fizesse para disfarçar o indisfarçável. São uma grande maioria: das poucas pessoas com quem devo cruzar-me e conviver. Talvez assim sejam estes os momentos em que melhor consigo perceber a minha dificuldade em baixar defesas e desconstruir muros.
Porque motivo não me orgulho deste facto é um reflexo intensamente cristalino de uma realidade que aprendi, porque tem de ser vivida para ser aprendida, a sustentar, sabendo que me é impossível preencher as expectativas que parecem nascer a um ritmo obsceno nas pessoas que me observam pela primeira vez. Sistematicamente presentes.
Porque razão jamais cederei à tentação de acomodar em mim as dissipações mais básicas, onde temos, necessariamente, de padronizar o que somos para que outros aceitem um pingo da nossa integridade pessoal, está escrito em letras pessoais e escritas em sangue no meu próprio catecismo - não o farei porque me reconheço incapaz de ceder as minhas emoções a estas pessoas.
Porque não existem espaços amplos e soalheiros em suficiente quantidade em mim para desperdiçar com outros que não um número restrito de criaturas; porque sei das minhas limitações e incapacidade de abrir os braços a toda a gente.
Sei deste egoísmo que me leva à tentação de apenas suportar aqueles que me olham com um brilho de reconhecimento nos olhos.
Sei.
Porque me apaixono intensamente por poucos - os que me reconhecem nos momentos em que bailam nos olhos as melodias do crepúsculo mais sereno. E os que nunca deixaram de verdadeiramente amar-me quando brilham nos meus olhos as imprudências da minhas sombras e do meu cismar.
São estes poucos, tão poucos, que realmente me conhecem - despido e sem defesas.
São os que realmente valem o meu amor egoísta e apaixonado.