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Ficou a mágoa. Uma intensa tristeza que se nota em todos os segundos. As paredes erguidas com a solidez de quem se arrepende todos os segundos. Quem se recusa a esquecer. Mesmo enquanto passeia, solene e em carícia, a ponta dos dedos esbranquiçados pelas laterais dos livros que cobrem a estante negra. O sobreolho desencoraja a conversa. Apenas a atenção se prende ora pela capa de Baudelaire, lido vezes sem conta por horas de solidão que escorre lenta, ora se fixa longos segundos na fatalidade de Paul Verlaine, Melancolia,
" Pra vós são estes versos, pla consoladora
Graça dos olhos onde chora e ri um sonho
Doce, pla vossa alma pura e sempre boa,
Versos do fundo desta aflição opressora."
São versos que conhece como os seus batimentos de coração destroçado. Repetidos todos os dias, mesmo perante as horas que esboçam os dias. Para não se esquecer. Relembrar. Repetir todos os dias mesmo que se encontre a folhear Rimbaud - Verlaine era dela. Dos seus prantos.
Existe uma tristeza que entalha as correntes do seu pensamento. Um vislumbrar de quem se casou cedo e num instante! Mas compassou a união sem planos, deixando as pegadas para chegar tarde a tudo. Atrasado ao amor de uma vida. Que pernoitava ao seu lado e em todos os dias o abraçava. Tarde. Atrasado para a agarrar para toda a vida.
O perdoar é um estranho que não o deixa esquecer. Recorda-o sem chegar atrasado. Qualquer submissão à luxúria se lhe subordina. A única dádiva que possui é a de recordar.
De resto, agora já não interessa. Que chegue atrasado a isto ou aquilo. Ao recordar de cheiros e roçar de vestidos vermelhos ou brancos.