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Obséquio a memórias perdidas ...
Para o Pessimista as memórias são, por vezes, um passo de afastamento do abismo. Aqueles momentos de hesitação que salvam o suicida, afastando-o do niilismo absoluto. A necessidade e pensamento que elevam ainda alguma crença de que algo é possível; mesmo que pouco, ainda é possível.
A memória de uma criatura pequena e demasiado frágil que se recusa a ficar imóvel mesmo que sem forças. É cristalino para o Pessimista, que ela não resistirá, será incapaz de erguer o corpo magro dos lençóis e caminhar dois passos seguidos. O Pessimista acredita no fim. Não na redenção dos que se forçam a não ceder.
E custa ao Pessimista um largo oceano da sua alma que a pequena criatura queira, teimosamente, passar um fino e negro braço em volta do seu, para um pequeno passeio pelo jardim, entre bancos de madeira e árvores que se agitam suavemente nas manhãs amenas do Verão.
Causa um petrificante rombo na muralha Pessimista conseguir dar aqueles passos lentos e receosos, enquanto escuta as pequenas palavras saídas de lábios gretados. Porque o que custa realmente admitir ao Pessimista veterano de muitas batalhas é a sua própria rendição e humilhante punição de humildade recebida. Mesmo que a pequena criatura consiga caminhar até ao pequeno jardim e sentir o ar da manhã, ainda que o caminho de volta seja feito, invariavelmente, com o seu corpo nos braços do Pessimista, o som daquele sorrir é o que mais próximo encontra para designar, ou tentar desesperadamente, aceitar que um qualquer Deus existe. Que tenha de dobrar um joelho na terra, inclinar a cabeça em submissão, perante quem nos castiga a resistência e o tão precioso Orgulho.
Que talvez a salvação habite na força inexplicável dos sobreviventes. Em memórias que não morrem. Nunca.