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Por alguma razão que ainda desconheço tenho mais facilidade em lidar com as sombras. Talvez como aquela minha fixação com os lápis de cor preta. Mesmo que em seu redor existam muitas outras cores, eu tenho a tendência natural para procurar o lápis negro. E são estranhas, as pessoas vistas entre sombras. Naquela meia-luz onde pensam (tranquilamente, imaginam) que não é possível serem vistas em pormenor. Por vezes, são categoricamente feias. Disformes porque não se sentem bem consigo próprias. Onde a aparência se desvanece a revelação é dolorosamente cruel. Na sombra, desnudam-se e nada consegue alterar o facto de que dançam descompassadas. Numa canção que não deveria ser a sua. Outras há que apenas nas sombras mais profundamente escuras se revelam de uma beleza atroz e sem comparação. São de uma raridade absurda e tudo, rigorosamente tudo o que emana delas é música que deve ser escutada e dançada. Cegamente. Este dom raramente se revela em plena luz. Flui na escuridão, como os gatos a coberto da noite. Acaba sempre por ser revelador e é na sombra que se consegue ver para além das cicatrizes e das dores.