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É uma ciência natural esta forma de vida transcendente que concebe a existência no fundo mais escuro e rochoso dos dias. Em camadas que cobrem o que os olhos conseguem ver cá em baixo e lá em cima. Principalmente, cá em baixo. Creio que muitas vezes pensei dispor do necessário para sair deste fundo. Por vezes parece estar ali em frente, a um abanar de dedos. Mas então, depois de tanta vida desperdiçada, após tanto contacto absurdo e vozes de raiva ou perdão, tudo se resume num ermo de sepulturas. Acima de tudo para sonhos desfeitos e almas mutiladas. Sepulturas cavadas com as próprias mãos para podermos respirar. Por um segundo, que seja.
Sei que não consigo fazer sentido, se desde tão cedo alimento um céu cinzento com apontamentos meticulosos. Se procuro respostas em tantas confissões junto à cama de moribundos. Na tarefa impossível de criar outra linguagem vinda de palavras a desaparecer. É tão grotescamente fácil que o desgosto se conforme e transforme naquele catecismo venenoso que a todos interessa. Onde todos se banham. Nunca esquecendo que a minha história, tal como a dos outros, é escrita na pele fria. Escrita com a garra do abutre e a saliva do rato. Nunca se desvanece. Cresce.