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Reconheço-te, como em muitas outras vezes, debaixo de tantos e tantos sussurros, as minhas fraquezas. Só a ti me atrevo a fazê-lo. Apenas a ti e perante a tua presença.

Mas, esquece-as! Quero antes falar-te das ânsias que me consomem. Pretendo falar de algo que também já conheces, como se  da tua própria respiração se tratasse.

 

Por cada momento que te olho, seja em plena  escuridão da noite ou seja no mais intenso brilho do sol, nunca me pareces próxima. Quase sempre, sinto que estás mais longe do que perto. Por isso, decido aproximar-me cada vez mais. Mesmo que estejas a centimetros do meu toque.

A tua sedução reside num estranho caldo  de bruxaria. Entrego-me a ti. Voluntáriamente. Livre. Aos teus braços que envolvem o meu pescoço. Ás tuas pernas de seda, que dominam a minha cintura. Como um virtuoso opiáceo, é nos teus olhos que percebo em que homem me tornei; é na tua boca que residem os segredos da tua imensa sabedoria.

 

Sou tão imensamente imperfeito! Tão enormemente ansioso.

E tu sabe-lo. Assim o queres.

A minha respiração nunca é terna ou harmoniosa quando me aproximo de ti. Cavalga e vibra. Tu? Colocas as mãos que curam, no meu peito e invocas o meu sossego. O teu dedo indicador traz a tua  saliva aos meus lábios e deixas que me liberte. Acho que amar é assim, animalesco e ao mesmo tempo de entrega. Só assim consigo justificar a ânsia com que percorro a tuas costas ondulantes com a ponta da língua para terminar com um suspiro no teu pescoço e uma dentada na orelha. Executas aquele bailado que me torna ainda mais demente ...

 

Só consigo parar por exaustão e mesmo assim, por entre a meia luz, não deixo de te olhar ( o olhar pardo, como lhe chamas ...) e ansiar por cada gota de suor que te escorre pela pele. Por cada arfar teu, cada doce suspiro teu, eu sei que fácilmente me levarás para qualquer lugar que queiras. Mais, que na tua beleza frágil, me esmagas sem esforço e rápidamente me tornarias louco. Se fosse essa a tua vontade.

 

Torna-se fácil conviver com os golpes com que flagelo o meu corpo. São cicatrizes, memórias físicas da minha inconstância. E nem preciso de muito. Basta que me dispa e me olhe ao espelho. Já deixei de me assustar.

Mas a geometria de dor que vai na alma, é todo um outro universo. Nada tem de exacto ou prevísivel. Sempre que me são reveladas respostas, logo surgem muitas mais perguntas. Sempre mais díficeis. E sempre mais complexas. Por isso acredito que possamos sangrar de forma tão intensamente moral, que se torna inútil evitar a sensação de impotência que nos assola, de cada vez que temos um leve vislumbre da nossa sinistra capacidade para o autoflagelo. É inato. É genético. É humano.


 

 

Quero dizer, porque raio me hei-de eu importar com o que os outros pensam? Porque razão terei eu de ser sempre racionalmente polido? Quando acho, que na maior parte das vezes, certas razões são falhas de lógica comum.

Onde é que está escrito que a virtude está em ser um cretino bem intencionado? Devo ser um anormal. Não gosto de mentir. E menos gosto que me mintam. Deveria, por isso, vergar e lamentar. Se calhar ...

Sinceramente, independentemente do que acham os outros, odiar é um antídoto. Permite assumir o comando da nossa conduta.

E depois, a paixão e o carinho por outros, também podem coabitar comigo. Não me importa nada. Desde que não me sinta preso. Comandado.

"A compaixão pelos animais
está intimamente ligada à bondade de caráter,
e quem é cruel com os animais
não pode ser um bom homem."

 ... Arthur Schopenhauer

 

 

"Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais...os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento. "


  ... Charles Darwin 

 

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