Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


É a mais estranha das soberanias, essa rapidez de destruição. Para voltar a reconstruir.

O consumir, uma irmandade que sangra e sofre, obtendo disso, o prazer. E torna-se imparável. Provoca os sentidos ... (esses) quase mortos. Agora despertos.

Não existe harmonia em mim. Nunca entendi a pacificação interior de que falam os poetas do armísticio amoroso. Não me invoca qualquer paz interior se não fôr amar e ser amado em demente posse. Mas é um anseio meu, esta procura de um canal de ligação entre a corrente e a lua. Vem de muito antes, como exlamava o filósofo - " vem do útero até à sepultura!"

 

Alguém já tentou sangrar sem dor? Creio que se torna passivel de loucura. Um estágio que pavimenta o caminho para a mais intensa observação. A verdadeira beleza reside nisto: na dor. Que nos torna realmente humanos. Não o amar algo. É o sofrimento.

Até a melancolia se torna numa espécie de fogo aceso no céu. Uma reverência feita em nome de algo que considero precioso nestes dias, onde cada vez menos existem preciosidades.

 

É bom que me sinta assim, brutalmente crú. Consigo vislumbrar uma beleza que muitas vezes permanece oculta.

 

Temos esta estranha capacidade para sofrer. Em qualquer acto nosso de criação é possivel ver esta nossa "vocação para o sofrimento". Caminhamos em duas pernas, orgulhosos do facto e da certeza de sermos superiores, quando nada mais fizemos do que nos tornarmos frágeis. Sem apoio. Todos os dias me é possivel testemunhar as minhas falhas, que são minhas e no entanto iguais às dos outros. A fraqueza de espirito, a anemia dos conceitos que me foi passada por outras gerações, provém da culpa e da incapacidade de quem me criou. Quem me fez nascer e crescer num  mundo descartável. Para mim, reles criatura que ainda consegue respirar, este foi um património que não pedi. E contra o qual não consigo lutar - mesmo que este ódio cresça todos os dias. Mesmo que saiba que outros também carregam esta peste. Não quero saber. Não me interessam as canções do mundo nem o seu amor destoado. Nunca quis este fardo. E porque é que não termino, desde logo, com a minha existência? Porque me sei perfeitamente capaz de o fazer. E porque me falta esse último passo.

 

Não consigo encontrar, nesta nova realidade, um modelo a seguir. Um único ser humano com quem possa sentir a total proximidade. Mesmo os que se acham mais longe e melhores, rastejam. São como eu: vermes pálidos com medo da escuridão.

Tudo, mas tudo o que desejo é descabido e sem aceitação por parte dos outros. E afinal, são da mesma estirpe! Ainda que se proclamem diferentes. Ainda que se achem acima.

 

Um passeio pelo Silêncio ...

 

 

Insisto em manter este silêncio. Recuso-me a deixar que outras palavras, que não sejam as mais míseras migalhas de consolo, perturbem esta calma. Que melhor caminho poderia encontrar? Senão passear por memórias gratas ao meu espirito. Recusando-me a deixa-las também morrer.

Abrir a mente ao que passou tão recentemente, a sombras que ainda aqui se encontram. É como abrir uma porta para um local que já antes foi palmilhado.

 

Mas ignoro os avisos e as práticas quotidianas de sobrevivência. Antes me vale permanecer em correntes. Porque o desejo. Quero manter as recordações. Porque quero. Não por desespero ou solidão - esses são companhia minha  de todos os dias. Nada benignos, nada sensatos. Meus, sem os querer.

É minha única intenção deixar que o desgosto me visite. Mas não o vergar ás lágrimas; existem outros muito mais capazes de chorar. E chorar em silêncio nunca foi de mim.  Se me calo e assim desejo ficar é apenas porque temo que qualquer som, acção ou desejo modifique o exacto local destas memórias. Temo que se assim for já as não consiga vislumbrar. É que nestes últimos dias a  escuridão tornou-se numa madrasta implacável.

 

Seja qual for posição que ocupemos neste planeta. Seja qual for o nosso estatuto hierárquico ou riqueza acumulada, pressinto que a nossa existência seria bem mais proveitosa, se tivessemos menos tralha subjectiva com que nos preocupar. Sinceramente.

Conheço tantos homens que amam tantas mulheres diferentes, que lhes dão filhos tão diferentes. E conheço mulheres que tudo amam e tudo querem para si. Todos se fixam nas mesmas coisas. Possuem uma nota para tudo: para o carro, para a casa, para o barco ou para o próximo LCD. Tanta tralha inútil.

E depois habitam em empregos que odeiam, porque são forçados a faze-lo. Senão, não conseguirão sustentar os brinquedos que os escravizam. Há um imenso vazio apenas preenchido por mais tralha. Mais exigências.

Eu poderia apenas agarrar em duas pessoas, realmente essênciais há minha sobrevivência, e partir para longe. Tudo o que deixaria para trás, seria muito pouco. Ninguém sentiria a minha falta ou ausência. Mas eu nada ficaria a dever a ninguem. Nada.

Mantenho um ritual desde que vivo por minha conta: ter dinheiro numa conta bancária. Mas não para bens materiais. Sim para "comprar" experiências.

Para onde quer que possamos ir, não podemos levar o nosso lindo quarto. Tão bem decorado! Nem sequer levar o nosso LCD gigante. Tralha. A única coisa que seguramente podemos levar são as nossas memórias. A recordação daquela viagem à tundra escandinava, onde o branco era tão imenso, que tirar os óculos escuros poderia levar à cegueira; ou aquele mergulho no meio dos golfinhos onde o conceito de liberdade se torna realmente opressivo. Porque tão palpável.

 

 

 

Confuso, procurei em mim a ternura de um nevoeiro que me tragasse,

Encontrei então, um estranho fogo

E chamei-lhe Fogo de Marte!

Tornei-o só meu, envenenando o poço da minha existência,

Deixei que crescesse, consumindo razão e certezas

 

Que mestres de luz posso encontrar?

Se nesta sonolência me entrego,

Se por breves momentos, este fogo se acalma

Para de novo se erguer, irado e imenso

Consumindo, em mil pragas de chamas

 

Diz-me, afortunada criatura

Se na Guerra existem sempre perdas

Tu, que navegas por nuvens brandas,

E auguras o amanhecer,

Porque deixo eu crescer este Fogo de Marte?

E, apesar de tudo, é dele que me alimento ...

 

vê,

como fácil é, tornar esta existência num estranho patíbulo de dor

onde,

cada gota de sangue se esvai, em promíscua adoração

uma raíz,

que sufoca, retraí e alimenta

porque,

já não poderia viver, mas resiste

maldita!

 

aqui,

mora a minha avidez, árida fronteira

no chão,

um habitar sem paz, impulsivo monstro

a sul,

fala-se do paraíso,

por aqui,

o sangue perde-se, frio

 

eu oiço-te,

estranho bater de asas, aos ouvidos agarrado

confrontar,

seguir por caminhos de remorso,

num,

estranho incesto de glória e desilusão.

Porque morro de saudades e antcipação...

Porque sei que a viagem será para breve ...

Até lá, recordo ....

 

Faço inimigos de nada, da minha razão

do meu pensar,

de promessas que jamais proferi, que nunca jurei

das questões que a mim ponho, recebo-as ocas

... impossiveis

 

E como te sentes, quando te encontras

perante nada?

para onde vais, para onde correrás,

quando, por mais uma vez

nada encontras, nada recebes?

 

Por onde te vejo e desejo,

só não encontro a chave, vagabundo

retenho o meu sentido, a minha alma

mesmo num mundo de visões

... e desilusões

 

E porque crio eu, este sentido de promessa?

esse sentido de propósito, num bizarro latejar

que me deixa perplexo, sempre em dúvida

sem saber o que devo olhar, apenas olhar

 

Ofendo, porque pergunto

desiludo, porque duvido

permaneço, nesta saliência do pensamento

e, para salvar a tua graça

devo manter em correntes, a besta que me consome?

 

 

 

Tags:

 

Chamo-me, nada

Para este buraco ermo e escuro, me arrastei

Foi aqui que os meus sonhos terminaram,

Onde a minha alma, testemunhei, se soltou

Para onde arrastei as minhas ilusões

E as deitei, para que morressem

Foi aqui, que Vi, sem  esperança

Que todo o significado que na minha existência coloquei,

Finalmente se revelou, como Nada

Que todo o significado que em mim puseram,

Finalmente se revelou, em Nada!

 

Todo o choro ou uivo,

Que de mim possa ter saido,

Ecoou neste vazio, meu buraco

E que ninguém os tenha escutado,

Porque amaldiçoado será, em noites de glória

Por mim reveladas, antítese da minha raiva

Pois as minhas palavras, rasgam a carne

Como adagas em chamas!

 

Reza a Deus,

Não te ouvirá,

Porque são vazias, as orações

Apenas restará a sujidade, no teu sangue

Apenas restará a sujidade, na minha dor,

E não devo descansar sob esta sepultura mutilada?

Porque devo eu prosseguir, assim, sem uma revelação

Verdade emancipada? Que hei-de inventar, agora?

Para voltar a caminhar hirto,

Voltar à senda que se esvaí, em fumo?

 

 

Maior triunfo que este? Questão posta, por insalúbre mente,

Me faça prosseguir, mais leve de mim,

Não voltar a olhar para o fundo negro, onde resido, inerte

Voltar a olhar para cima, mesmo de costas quebradas,

E sentir o vento, tocando-me no rosto,

Sentir que voltar a respirar, também é meu direito...

Tags:




Arquivo

  1. 2024
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2023
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2022
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2021
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2020
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ
  66. 2019
  67. JAN
  68. FEV
  69. MAR
  70. ABR
  71. MAI
  72. JUN
  73. JUL
  74. AGO
  75. SET
  76. OUT
  77. NOV
  78. DEZ
  79. 2018
  80. JAN
  81. FEV
  82. MAR
  83. ABR
  84. MAI
  85. JUN
  86. JUL
  87. AGO
  88. SET
  89. OUT
  90. NOV
  91. DEZ
  92. 2017
  93. JAN
  94. FEV
  95. MAR
  96. ABR
  97. MAI
  98. JUN
  99. JUL
  100. AGO
  101. SET
  102. OUT
  103. NOV
  104. DEZ
  105. 2016
  106. JAN
  107. FEV
  108. MAR
  109. ABR
  110. MAI
  111. JUN
  112. JUL
  113. AGO
  114. SET
  115. OUT
  116. NOV
  117. DEZ
  118. 2015
  119. JAN
  120. FEV
  121. MAR
  122. ABR
  123. MAI
  124. JUN
  125. JUL
  126. AGO
  127. SET
  128. OUT
  129. NOV
  130. DEZ
  131. 2014
  132. JAN
  133. FEV
  134. MAR
  135. ABR
  136. MAI
  137. JUN
  138. JUL
  139. AGO
  140. SET
  141. OUT
  142. NOV
  143. DEZ
  144. 2013
  145. JAN
  146. FEV
  147. MAR
  148. ABR
  149. MAI
  150. JUN
  151. JUL
  152. AGO
  153. SET
  154. OUT
  155. NOV
  156. DEZ
  157. 2012
  158. JAN
  159. FEV
  160. MAR
  161. ABR
  162. MAI
  163. JUN
  164. JUL
  165. AGO
  166. SET
  167. OUT
  168. NOV
  169. DEZ
  170. 2011
  171. JAN
  172. FEV
  173. MAR
  174. ABR
  175. MAI
  176. JUN
  177. JUL
  178. AGO
  179. SET
  180. OUT
  181. NOV
  182. DEZ


topo | Blogs

Layout - Gaffe