Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


(999)

 

 

 

 

 " You were seeking strength, justice, splendour! You were seeking love!
Here is the pit, here is your pit! Its name is SILENCE… ", DSO

 

 

A violência é o ensino mais básico do ser humano. A meu ver. Pessoalmente. 

 

Desde os primórdios daquele primeiro rasgão na pele - sintoma logo vestido de lama escura e da qual deveria ter fugido. Lição não aprendida, a juntar a outros rasgos. Não apreendidos.

 

Nada se lhe compara em tácticas de ensino. Nem o mais bondoso dos corações ofusca este santuário dourado, encimado pelos ramos distorcidos da nossa capacidade mais escura, subterrânea e arquejante de destilar violência contra outros. E principalmente, usar o escalpelo deste ensino em mim próprio.

 

Os olhos são furtados e jamais devolvidos. Permanece um arrepio que viaja alegre do pescoço e escorrega pelas costas. Um beijo de amante voraz que nos matará neste arrepiar. Dobrada em nós tem a pele rija e o coração cintilante de certezas e sobressaltos.

 

E no entanto, a sua marca modifica a alma; nos pequenos socalcos da vitória de mais uma travessia; em suaves bancos acima da torrente dos seus braços e pernas agarrados a nós. Altera. Seja pelo rasgar nervoso da pele. Seja pela luz que irradia na mais densa escuridão.

 

O maior ensino da violência reside numa suprema ironia: habita em nós e faz parte de tudo o que somos. Devora e afoga, pricipescamente, qualquer ideal ou noção, muitas vezes com o odor divino das flores em primavera. Mas é também salvação e luz. Tão necessária como o respirar, é o caos primordial necessário que apenas é negado pelas ilusões de quem sabe estar enganado mas não o reconhece.

 

 

(999)

 

 

A natureza humana gosta de se deliciar com mentiras sobre os seus receios e desejos. Mente desgrenhada sobre o que escondem outras almas. Prefere a companhia de semelhantes, pregada em mandamentos de solidez edificada por deuses que nunca viu. Enquanto isso, massaja, obsessiva, as têmporas da suave enxaqueca vestibular onde dormem as suas tonturas e amarguras.

 

Mente.

 

Intoxicada nas luzes amigas ou palavras modestas de companhia porque teme a solidão. E porque não consegue fugir dos dias onde as lições são repetidas demasiadas vezes. Em nome do Pai, do Filho e de um Espírito que se anseia santo.

 

A verdadeira natureza humana é imperfeita porque se esconde atrás de trapos esburacados, onde ainda alguma claridade se esboça. Não sabe de outro rosário que não o da asfixia lenta. E nada lhe é mais permanente do que o cautério da claustrofobia. Animal de becos sem saída não quer espaços livres. Prefere o aperto sem respiração.

 

O claustrofóbico é a nossa maior dádiva e maldição. Dentro do ventre materno. Na sede e na fome. Nas agonias esbatidas pelo aperto hábil da esperança. Em comunhão física, pincelada de grandiosidade libertadora e divina, porque é desta natureza esfarelar a gosto e tempero de prosa ou poema épico um amplexo de sensações que nada mais é do que uma libertação física. Prazer e adrenalina? Não. Dor e claustrofobia libertadora.

 

Por veias finas surgem tempestades silenciosas.

 

 

 

 

 

 

 

O som tem alma. Um persistente chamar e sonhar. É uma origem a que me entrego sem pudor ou hesitante ao feitiço das suas notas. Esta beleza, este arquétipo de portentos, cresce para além dos limites humanos e parece gostar de se sentar entre os deuses e vales eternos. O mero respirar se resigna aos seus desígnios mais agrestes ou aos caprichos mais perversos de amante insaciável.

 

Sempre lhe notei um carisma de colosso, embalando e cristalizando a minha vontade. Porque é grande, imenso e um monólito a ser venerado, bramindo até que o coração estremeça e os sentidos se evaporem num êxtase nunca duplicado, sem igual.

 

Testemunho uma veneração cultista ao som. Uma visão à escuridão como caminho traçado na certeza. Existo num mundo conclave onde as alianças são uma transmutação de valores. Apenas a morte terminará com este amplexo. Não o ódio ou o desprezo dos inferiores.

" Legião ..."

 

 

De toda a retórica ouvida por estes dias, creio que perdoar seja a palavra mais expressiva; muito mais do que perdoar, aceitar tolerando, é o mais profundamente espezinhado. Toleramos o político deprimente e corrupto com apenas um encolher de ombros, aceitando que seja uma inevitabilidade inatacável. Entre os afagos de muita gente recusamos admitir a nossa fraqueza e impossibilidade de encontrar uma saída.

 

Não existem palavras para explicar o quanto acho errado este lado infantil e sentimental da maioria das pessoas; como tudo isso se converte num veneno que mata com a serenidade dos que gostam da morte paciente. Sempre mas sempre com aquele trémulo arvorar de um mundo que deveria ser plural. E sempre mas sempre preenchendo os dias com as queixas, manifestações e campanhas que nada salvam ou modificam.

 

Sou um cínico não por natureza mas por defeito. Não acredito na bondade da maior parte das pessoas e nas suas palavras. Alguém, de hábitos enraizados, gosta de me chamar individualista cru e no entanto poucos são os que me conseguem justificar o amar perante certas dores e nódoas negras. Não existe ainda, ninguém que me tenha convencido a tolerar diante de factos consumados.

 

Ou porque será mais profícuo ter mais gente em detrimento de apenas uns poucos.

 




Arquivo

  1. 2025
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2024
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2023
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2022
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2021
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ
  66. 2020
  67. JAN
  68. FEV
  69. MAR
  70. ABR
  71. MAI
  72. JUN
  73. JUL
  74. AGO
  75. SET
  76. OUT
  77. NOV
  78. DEZ
  79. 2019
  80. JAN
  81. FEV
  82. MAR
  83. ABR
  84. MAI
  85. JUN
  86. JUL
  87. AGO
  88. SET
  89. OUT
  90. NOV
  91. DEZ
  92. 2018
  93. JAN
  94. FEV
  95. MAR
  96. ABR
  97. MAI
  98. JUN
  99. JUL
  100. AGO
  101. SET
  102. OUT
  103. NOV
  104. DEZ
  105. 2017
  106. JAN
  107. FEV
  108. MAR
  109. ABR
  110. MAI
  111. JUN
  112. JUL
  113. AGO
  114. SET
  115. OUT
  116. NOV
  117. DEZ
  118. 2016
  119. JAN
  120. FEV
  121. MAR
  122. ABR
  123. MAI
  124. JUN
  125. JUL
  126. AGO
  127. SET
  128. OUT
  129. NOV
  130. DEZ
  131. 2015
  132. JAN
  133. FEV
  134. MAR
  135. ABR
  136. MAI
  137. JUN
  138. JUL
  139. AGO
  140. SET
  141. OUT
  142. NOV
  143. DEZ
  144. 2014
  145. JAN
  146. FEV
  147. MAR
  148. ABR
  149. MAI
  150. JUN
  151. JUL
  152. AGO
  153. SET
  154. OUT
  155. NOV
  156. DEZ
  157. 2013
  158. JAN
  159. FEV
  160. MAR
  161. ABR
  162. MAI
  163. JUN
  164. JUL
  165. AGO
  166. SET
  167. OUT
  168. NOV
  169. DEZ
  170. 2012
  171. JAN
  172. FEV
  173. MAR
  174. ABR
  175. MAI
  176. JUN
  177. JUL
  178. AGO
  179. SET
  180. OUT
  181. NOV
  182. DEZ
  183. 2011
  184. JAN
  185. FEV
  186. MAR
  187. ABR
  188. MAI
  189. JUN
  190. JUL
  191. AGO
  192. SET
  193. OUT
  194. NOV
  195. DEZ


topo | Blogs

Layout - Gaffe