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Penso nas mortes que se anunciam, que se avistam ao longe.
Quando alguém se senta à minha frente e mete o cigarro nos lábios; depois hesita, indeciso ou absorto, acabando por guarda-lo de novo. Dentro do maço de letras vermelhas.
Também vejo como se chegam para a frente, educadamente. Numa mesa ornamentada com os talheres obssessivamente alinhados. E olham para os copos e para o vinho. Nos olhos o desejo achatado por vergonha.
Por vezes, o poço está ali; mesmo em frente. O desejo de saltar faísca, e no entanto vive-se. Hoje, pelo menos. Vivem.
Durante anos, retemos a faculdade de esquecer que o caminho para o abismo/morte está próximo. O tempo que decorre entre o nascimento e o fim serve apenas para alimentar os sonhos de eternidade.
E chego à conclusão de que fui criado na crença de um karma. Um destino traçado. Que existe o mal e o bem. Que o mal é exterior, é o corpo que se corrompe. Que o bem é interior, a alma. A luz. E no entanto
...
Sou um só. Apenas eu. A caminho de um fim.
Agora imaginem que me encontro nú, perante todos. Que insisto em escrever o que sinto. E que mesmo assim me estou a esvair em sangue. Que caio, exausto, sem conseguir escrever algo que me salve ou redima. É no entanto, como me sinto. Cansado, a perder sangue e despido. À beira do colapso.
Delírios de um alucinado ...
Arrasto os pés nas areias de um sul solarengo
Mas tenho a cabeça presa ás montanhas do norte
Botas arrastando-se pelo pó do sul
Enquanto a cabeça dorme nas montanhas do norte
Os teus olhos aprisionam
Creio que preciso de ajuda, sinto-me tonto
E continuo a pensar na tua noite, imaginando o paraiso
Permaneço artefacto, teu poiso para voar na escuridão
Ontem à noite vi-te nua
Pairando por cima de mim
Estavas nua e ouvi que murmuravas um encantamento a um lobo
Que uivava para uma lua manchada de negro
Onde está a minha cabeça?
Onde!? ...
( Fucked up drowsiness ...)
A fábrica da vida criou-nos por pura e fria crueldade. Subverter e adiar a verdadeira essência do que somos: escuridão. Como criaturas sonhadoras que somos, tentamos estabelecer regras de aceitação. Impôr um lado aceitável pelo resto. Por psiquiatras e por médicos diversos, tentamos estabelecer fronteiras a um primado que nunca se alterou. Nunca podemos dizer que conhecemos o outro. Se nem sequer a nós mesmos concedemos esse luxo. Já desisti de justificar porque preferia viver entre ratos a subsistir entre ovelhas. Porque prefiro o trilho do chacal ao alegre saltarico da gazela feliz e despreocupada. Se fosse possivel, viveria uma vida em apenas um dia. Tal me parece o infortúnio dos que se julgam videntes só porque acreditam na religião humana.
Se quiseres carrego-te ás costas. Se isso servir para que me vejas como sou.
Talvez te seja estranho, quando falo sobre escuridão. Deveria antes, mostrar-te a luz. Mesmo assim, deixa que te afirme que existe claridade onde me arrasto. Não é uma prisão de barras. Apenas se respiram as cinzas da desilusão. Mas divago. Abstraio-me ...
Para quem vive de sonhos e pensamentos altruístas é complicado aceita-lo. É tão ingrato sentir como se escapa a verdade entre os nossos dedos ... Mas nada dura para sempre. E esta escuridão é muito, mas muito diferente do que alguma vez imaginaste. Não estou louco, pelo menos assim penso. Aposto que para ti, escuridão equivale a demónio. A pragas e fantasmas. A bruxas e a perdição. Querida, não poderias estar mais equivocada! Todos nós temos esta ânsia de deixar de pensar como todos os outros. Ir contra os desejos dos que nos querem ver iguais. Apenas, como deves saber, a maioria prefere morrer sem nunca ter absorvido a escuridão. Não, não é escuridão da noite, que dessa falarei noutra ocasião. É a escuridão sem deuses e onde apenas reina o homem. Esse mesmo. O homem. Capaz do pior e do melhor. Cara dama, deseja saber onde se encontra o demónio de que tanto foge? Dentro de si! Dá vontade de rir, não é? Tentar fugir do que está dentro de si: nos seus instintos e na sua mente.
Mas neste coração bate fundo o amor. Sou capaz de amar. Nem sequer pretendo que vejas pelos meus olhos. Que existe felicidade neste breu de alma. Porque vou contra tudo o que julgam correcto e amável. Nos excessos da alma é fácil encontrar a escuridão. E vejo tão profusamente claro! Não imaginas o que nos pode causar o discurso da alma. Quando é tão diferente e negro. Tão oposto ás canções que te entoam os teus pais, os teus amantes e as tuas amigas de peito. Beber um trago que seja, desta noção embriaga. Vicia. Transforma. Dá vida.
Escuridão que não chama por deuses. Feita de cinzas de alma. Desilusão e poder de vontade.
Não sei porque te falo de tal noção. Tão imensa é a vontade de mudar a minha pele. Expurgar a solidão que provoca a minha instabilidade.
Escuridão é afastamento. Reconhecimento da minha imperfeição e incapacidade de viver uma vida de cabeça curva.
Escuridão é a minha recusa a viver em amorfa entrega. Cristalizado por um brilho que abomino. O brilho de quem aceita que não existem saídas.
"It's time now!
My time now!
Give me my
Give me my wings...!"
Sei, que a piedade é apenas para os fracos. Que ela nunca foi o que quiseste. Apenas me custa. Só isso. Afinal sou meramente humano.
Que todos morremos, já o sei. Sabes que não me interessa o que acham outros da morte. O que não sei e nem sequer outras criaturas sonhadoras, é o que é o inferno. Tu sabes. Eu, banhado nos meus caminhos e na minha arrogância, fui testemunha. Os olhos, a evidência, do teu amor incondicional. O combate perdido todos os dias, mais um pouco. E eu sempre mais e mais descrente.
Mas creio que agora, que se aproxima o fim, devo exigir as asas da tua fé inabalável. Porque a minha luz não chega para te iluminar o caminho. E está a tornar-se tão difícil ver-te com estas luzes fluorescentes. Odeio-as, escondem o brilho dos teus olhos. E o teu sorriso cansado.
Mas nada temas. Sei que quando estiveres frente a frente com o teu Criador, o olharás nos olhos. Olha-O e diz-lhe: nunca viveste um mentira! Nunca tiraste uma vida, que fosse! E diz-LHE, antes pelo contrário; salvaste uma!
Agita o punho a esses portões dourados. Grita, por mim, "Cheguei a casa!"
Ainda assim, por fraca que seja a minha luz, vou deixar que arda. Para que possa ajudar-te no caminho. Ajudar a que chegues a onde eu nunca entrarei. Que chegues sã e salva. A casa.
Deixa que aqui fiquemos, nós, criaturas patéticas, tremendo incessantemente. Sem ti. Segues para um caminho mais alto. Finalmente, de olhos erguidos. Acabou este inferno de fogo e dor. Avisa o Senhor que o seu pilar de fé chegou. Deixando-nos a nós, reles vermes, cegos sem a tua Luz.
Hallelujah,
tens finalmente asas!
vais para casa!
Qual é a graça de continuarmos a negar as evidências? Porque razão culpamos sempre os outros pela nossa incapacidade de reagir? Queremos estar cómodos. Somos jovens, estudamos e temos tudo em casa. Não fazemos mais nada a não ser isso, note-se. Culpamos os pais porque nos exigem boas notas! São uns monstros! Que pagam e não têm o direito de exigir nada. A nós! Jovens que só queremos curtir! Temos a vida toda há frente, enquanto a corja de cotas, retrógada e desactualizada, só pensa no estudo. Não nos importa se permanecemos ignorantes. Nem sequer se morremos de ataque cardíaco a "pastilhar". Se chegamos a casa pedrados e a roer os lábios da "pastilha", parecendo hienas imbecis ás voltas. Nada disso interessa. Apenas que paguem as propinas e nos dêem dinheiro. O resto fazemos nós.
Se passamos os vinte, os trinta e até os quarenta, vivendo à conta dos velhos, arrastando o corpo miserável pelos bares e camas de namoradas ou namorados, outros tantos idiotas, entrando em casa depois da hora e assumindo que isso é indepêndencia, apenas temos de culpar os progenitores. Pela nossa incapacidade de reconhecimento. De que somos um pedaço inútil de massa humana! Não passaremos daquilo. Achamos radical, no entanto. Quando entre dentes, os velhos nos odeiam e nos desejam mortos. Com razão, diga-se. Somos um mísero fardo. Um verbo de encher.
Negar esta evidência, leva a que se confunda juventude audaz e progressiva com parasitismo. A partir do momento que um parente exige resultados no estudo ou em qualquer outra actividade, desperta logo uma onda de indignação do jovem aspirante ao futuro. Não há direito! É obrigação parental, deixar que o referido ser permaneça um cretino sanguessuga. Preso ao conceito de liberdade gananciosa. Se tal não acontecer, recorro desde já, ao físico, e parto-lhes os dentes! Velhos de merda! Porque razão não deixam que viva a minha vida? E se ficar um esterco "carocho" e agarrado aos copos? É vossa obrigação gastarem até ao último euro para me reabilitarem.
Bem sei que deveria era dar um tiro na merda da cabeça, em vez de ser o torpe pedaço de inutilidade que sou.
Ou então, mesmo dando mais trabalho, tentar ter a minha vida própria. Não deixar de ser jovem radical ou lá que se queira, mas ter orgulho do que consigo. Orgulho! Não falsa noção de poder. Sem sacríficios não se chega a lado algum. Fala a experiência.
Depois temos uma certa estirpe de pais. Supremos artesãos de negação de evidências.
Não exergam o crescimento do rebento. Não acham ser possivel conjugar as hormonas e a vontade de sexo com os estudos. Esquecem-se do seu passado. São vinho de outra cepa, dizem. Agora já não há jovens como antes. Referem-se a si, com certeza. Porque são frustrados e medíocres. Fazem tábua rasa da noção de liberdade. Perseguem e hostilizam todos os pensamentos dos filhos, frustrando-lhes as ideias e as convicções. Transformam a vida destes num inferno ditador de exigências que apenas visam manter o pé asqueroso no pescoço do rebento, que não sabe cuidar-se! Quanto mais tempo estiveram debaixo da alçada mais próximos ficam de se tornar iguais: um absurdo exemplo de raça humana. São assim, incapazes de "dar asas" a quem mais necessita. Os seus rebentos.
Drop me dead and you’ll find me there
Without regret, nor tears, nor guts,
Just nothing!!!!
Don’t trust! Impulse!
Fist fuck! And Win!!!!
No man!
No man!
No man!
No man!
No man, save none, want none, smear god on their faces
Save me!
Damn me!
Drink me, in the ground, nail my story on their tables!
No dog!
No dog!
No Bog!
No dog!
No dog!
No dog!
No Bog!
No dog!
No dog!
No dog!
No Bog!
No dog!
No bog!
Bogdamn god!
A que devo tamanha bondade, vossa senhoria? Neste desterro mal amado. Num ninho dourado, por sangue de momentos interrompidos.
Sim, vossa senhoria, tamanha bondade? Porque me sinto inchado por vossa imagem mística! Ao lado da minha angústia blasfema. Por vossa imagem fantasmagórica. Voadora. Pensamentos fantasmas. A meu lado, senhoria. Ao pé de mim.
Desconheço esse buraco, senhoria. É estranho, para mim. Pois dá calor e virtude. Ao meu deboche venenoso e desfigurado.
Perdoará, mas prefiro que a minha alma vá por entre as brechas corrompidas. É melhor que se cubra de musgo, pois não vá infecta-la, nobre senhoria. Iria vacilar, com certeza. Não lhe assentaria bem, sabe? Pois seja assim; pela sua ignorante bondade. A minha insanidade, vagabundas orações por um nascer de sol, sem esperanças. Seja assim, senhoria.
E veja a catedral que habito: não tem deuses! É apenas para a passagem rápida do tempo, que me odeia.
É como um furacão de morte. Um rio de sangue que me insulta. E corrói. Afogando a minha vida de tudo o que é realmente bom.
Acha que ainda mereço tamanha bondade, vossa senhoria?