Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


 

 

Penso nas mortes que se anunciam, que se avistam ao longe.

Quando alguém se senta à minha frente e mete o cigarro nos lábios; depois hesita, indeciso ou absorto, acabando por guarda-lo de novo. Dentro do maço de letras vermelhas.

Também vejo como se chegam para a  frente, educadamente. Numa mesa ornamentada com os talheres obssessivamente alinhados. E olham para os copos e para o vinho. Nos olhos o desejo achatado por vergonha.

Por vezes, o poço está ali; mesmo em frente. O desejo de  saltar faísca, e no entanto vive-se. Hoje, pelo menos. Vivem.

Durante anos, retemos a faculdade de esquecer que o caminho para o abismo/morte está próximo. O tempo que decorre entre o nascimento e o fim serve apenas para alimentar os sonhos de eternidade.

 

E chego à conclusão  de que fui criado na crença de um karma. Um destino traçado. Que  existe o mal e o bem. Que o mal é exterior, é o corpo que se corrompe. Que o bem é interior, a alma. A luz. E no entanto

...

Sou um só. Apenas eu. A caminho de um fim.

Agora imaginem que me encontro nú, perante todos. Que insisto em escrever o que sinto. E que mesmo assim me estou a esvair em  sangue. Que caio, exausto, sem conseguir escrever algo que me salve ou redima. É no entanto, como me sinto. Cansado, a perder sangue e despido. À beira do colapso.

 

 

Delírios de um alucinado ...

 

 

Arrasto os pés nas areias de um sul solarengo

Mas tenho a cabeça presa ás montanhas do norte

         

Botas arrastando-se pelo pó do sul

Enquanto a cabeça dorme nas  montanhas do norte

 

Os teus olhos aprisionam

Creio que preciso de ajuda, sinto-me tonto

 

E continuo a pensar na tua noite, imaginando o paraiso

Permaneço artefacto, teu poiso para voar na escuridão

 

Ontem à noite vi-te nua

Pairando por cima de mim

 

Estavas nua e ouvi que murmuravas um encantamento a um lobo

Que uivava para uma lua manchada de negro

 

Onde está a minha cabeça?

Onde!? ...

 

 

( Fucked up drowsiness ...)

 

Como pode um cego ensinar o caminho? Remeto antes a questão a quem se julga livre. Porque hoje a revelação já não me importa.
Assim, sei que sobrevivo. Sei que posso, ainda viver mais um pouco.
Não vejo muito mais do que a solução de fechar os olhos a uma certa aura, uma leve brisa e poder aspirar a outra coisa.
Mas sangro. Muito. Ninguém o pode impedir, nem sequer quem me ampara a figura. Sangro. Que sirva para me afirmar vivo. Não apenas uma concha de carne e osso.
Rejeição. Flagrante. Nos meus olhos. No espelho.
Talvez sejam os últimos passos que dou. Tentando ficar firme. Precisando sempre de uma mão. Uma guia, que a noite tornou-se nefasta!
Um braço dormente. Igualmente maculado. Estranhamente estético ...
Por vezes cresço, tanto. Cresço até não me conseguir conter nas fronteiras deste corpo. É uma revelação. Ali! Junto a ti! Para depressa encolher. De novo. Como sempre.
Não gosto de mim, assim. É como arrastar um fardo. Custa demasiado, vasculhar para encontrar aquele orgulho que me ergue. Odeio-me,assim. Sem vontade. Sem noção de que me estou a matar, lentamente.

 

A fábrica da vida criou-nos por pura e fria crueldade. Subverter e adiar a verdadeira essência do que somos: escuridão. Como criaturas sonhadoras que somos, tentamos estabelecer regras de aceitação. Impôr um lado aceitável pelo resto. Por psiquiatras e por médicos diversos, tentamos estabelecer fronteiras a um primado que nunca se alterou. Nunca podemos dizer que conhecemos o outro. Se nem sequer a nós mesmos concedemos esse luxo. Já desisti de justificar porque preferia viver entre ratos a subsistir entre ovelhas. Porque prefiro o trilho do chacal ao alegre saltarico da gazela feliz e despreocupada. Se fosse possivel, viveria uma vida em apenas um dia. Tal me parece o infortúnio dos que se julgam videntes só porque acreditam na religião humana.

 

Se quiseres carrego-te ás costas. Se isso servir para que me vejas como sou.

 

Talvez te seja estranho, quando falo sobre escuridão. Deveria antes, mostrar-te a luz. Mesmo assim, deixa que te afirme que existe claridade onde me arrasto. Não é uma prisão de barras. Apenas se respiram as cinzas da desilusão. Mas divago. Abstraio-me ...

Para quem vive de sonhos e pensamentos altruístas é complicado aceita-lo. É tão ingrato sentir como se escapa a verdade entre os nossos dedos ... Mas nada dura para sempre. E esta escuridão é muito, mas muito diferente do que alguma vez imaginaste. Não estou louco, pelo menos assim penso. Aposto que para ti, escuridão equivale a demónio. A pragas e fantasmas. A bruxas e a perdição. Querida, não poderias estar mais equivocada! Todos nós temos esta ânsia de deixar de pensar como todos os outros. Ir contra os desejos dos que nos querem ver iguais. Apenas, como deves saber, a maioria prefere morrer sem nunca ter absorvido a escuridão. Não, não é escuridão da noite, que dessa falarei noutra ocasião. É a escuridão sem deuses e onde apenas reina o homem. Esse mesmo. O homem. Capaz do pior e do melhor. Cara dama, deseja saber onde se encontra o demónio de que tanto foge? Dentro de si! Dá vontade de rir, não é? Tentar fugir do que está dentro de si: nos seus instintos e na sua mente.

 

Mas neste coração bate fundo o amor. Sou capaz de amar. Nem sequer pretendo que vejas pelos meus olhos. Que existe felicidade neste breu de alma. Porque vou contra tudo o que julgam correcto e amável. Nos excessos da alma é fácil encontrar a escuridão. E vejo tão profusamente claro! Não imaginas o que nos pode causar o discurso da alma. Quando é tão diferente e negro. Tão oposto ás canções que te entoam os teus pais, os teus amantes e as tuas amigas de peito. Beber um trago que seja, desta noção embriaga. Vicia. Transforma. Dá vida.

Escuridão que não chama por deuses. Feita de cinzas  de alma. Desilusão e poder de vontade.

 

Não sei porque te falo de tal noção. Tão imensa é a vontade de mudar a minha pele. Expurgar a solidão que provoca a minha instabilidade.

Escuridão é afastamento. Reconhecimento da minha imperfeição e incapacidade de viver uma vida de cabeça curva.

Escuridão é a minha recusa a viver em amorfa entrega. Cristalizado por um brilho que abomino. O brilho de quem aceita que não existem saídas.

 

 

 "It's time now!

My time now!
Give me my
Give me my wings...!"


 

Sei, que a piedade é apenas para os fracos. Que ela nunca foi o que quiseste. Apenas me custa. Só isso. Afinal sou meramente humano.

Que todos morremos, já o sei. Sabes que não me interessa o que acham outros da morte. O que não sei e nem sequer outras criaturas sonhadoras, é o que é o inferno. Tu sabes. Eu, banhado nos meus caminhos e na minha arrogância, fui testemunha. Os olhos, a evidência, do teu amor incondicional. O combate perdido todos os dias, mais um pouco. E eu sempre mais e mais descrente.

 

Mas creio que agora, que se aproxima o fim, devo exigir as asas da tua fé inabalável. Porque a minha luz não chega para te iluminar o caminho. E está a tornar-se tão difícil ver-te com estas luzes fluorescentes.  Odeio-as, escondem o brilho dos teus olhos. E o teu sorriso cansado.

Mas nada temas. Sei que quando estiveres frente a frente com o teu Criador, o olharás nos olhos. Olha-O e diz-lhe: nunca viveste um mentira! Nunca tiraste uma vida, que fosse! E diz-LHE, antes pelo contrário; salvaste uma!

Agita o punho a  esses portões dourados. Grita, por mim, "Cheguei a casa!"

Ainda assim, por fraca que seja a minha luz, vou deixar que arda. Para que possa ajudar-te no caminho. Ajudar a que chegues a onde eu nunca entrarei. Que chegues sã e  salva. A casa.

 

Deixa que aqui fiquemos, nós, criaturas patéticas, tremendo incessantemente. Sem ti. Segues para um caminho mais alto. Finalmente, de olhos erguidos. Acabou este inferno de fogo e dor. Avisa o Senhor que o seu pilar de fé chegou. Deixando-nos a nós, reles vermes, cegos sem a tua Luz.

 

Hallelujah,

tens finalmente asas!

vais para casa!

 

Would you hate ME only because i am different?

 

Would you stare at ME only because i have learned to hate?

 

Would you kill ME only because i have fallen from God?

 

Would you destroy ME only because i can´t weep for you no more?

Qual é a graça de continuarmos a negar as evidências? Porque razão culpamos sempre os outros pela nossa incapacidade de reagir? Queremos estar cómodos. Somos jovens, estudamos e temos tudo em casa. Não fazemos mais nada a não ser isso, note-se. Culpamos os pais porque nos exigem boas notas! São uns monstros! Que pagam e não têm o direito de exigir nada. A nós! Jovens que só queremos curtir! Temos a vida toda há frente, enquanto a corja de cotas, retrógada e desactualizada, só pensa no estudo. Não nos importa se permanecemos ignorantes. Nem sequer se morremos de ataque cardíaco a "pastilhar". Se chegamos a casa pedrados e a roer os lábios da "pastilha", parecendo hienas imbecis ás voltas. Nada disso interessa. Apenas que paguem as propinas e nos dêem dinheiro. O resto fazemos nós.

Se passamos os vinte, os trinta e até os quarenta, vivendo à conta dos velhos, arrastando o corpo miserável pelos bares e camas de namoradas ou namorados, outros tantos idiotas, entrando em casa depois da hora e assumindo que isso é indepêndencia, apenas temos de culpar os progenitores. Pela nossa incapacidade de reconhecimento. De que somos um pedaço inútil de massa humana! Não passaremos daquilo. Achamos radical, no entanto. Quando entre dentes, os velhos nos odeiam e nos desejam mortos. Com razão, diga-se. Somos um mísero fardo. Um verbo de encher.

 

Negar esta evidência, leva a que se confunda juventude audaz e progressiva com parasitismo. A partir do momento que um parente exige resultados no estudo ou em qualquer outra actividade, desperta logo uma onda de indignação do jovem aspirante ao futuro. Não há direito! É obrigação parental, deixar que o referido ser permaneça um cretino sanguessuga. Preso ao conceito de liberdade gananciosa. Se tal não acontecer, recorro desde já, ao físico, e parto-lhes os dentes! Velhos de merda! Porque razão não deixam que viva a minha vida? E se ficar um esterco "carocho" e agarrado aos copos? É vossa obrigação gastarem até ao último euro para me reabilitarem.

Bem sei que deveria era dar um tiro na merda da cabeça, em vez de ser o torpe pedaço de inutilidade que sou.

Ou então, mesmo dando mais trabalho, tentar ter a minha vida própria. Não deixar de ser jovem radical ou lá que se queira, mas ter orgulho do que consigo. Orgulho! Não falsa noção  de poder. Sem sacríficios não se chega a lado algum. Fala a experiência.

 

Depois temos uma certa estirpe de pais. Supremos artesãos de negação de evidências.

Não exergam o crescimento do rebento. Não acham ser possivel conjugar as hormonas e a vontade de sexo com os estudos. Esquecem-se do seu passado. São vinho de outra cepa, dizem. Agora já não há jovens como antes. Referem-se a si, com certeza. Porque são frustrados e medíocres. Fazem tábua rasa da noção de liberdade. Perseguem e hostilizam todos os pensamentos dos filhos, frustrando-lhes as ideias e as convicções. Transformam a vida destes num inferno ditador de exigências que apenas visam manter o pé asqueroso no pescoço do rebento, que não sabe cuidar-se! Quanto mais tempo estiveram debaixo da alçada mais próximos ficam de se tornar iguais: um absurdo exemplo de raça humana. São assim, incapazes de "dar asas" a quem mais necessita. Os seus rebentos.

 

 

Drop me dead and you’ll find me there
Without regret, nor tears, nor guts,
Just nothing!!!!

Don’t trust! Impulse!
Fist fuck! And Win!!!!

No man!
No man!
No man!
No man!
No man, save none, want none, smear god on their faces

Save me!
Damn me!
Drink me, in the ground, nail my story on their tables!

No dog!
No dog!
No Bog!
No dog!

No dog!
No dog!
No Bog!
No dog!

No dog!
No dog!
No Bog!
No dog!
No bog!
Bogdamn god!

 

A que devo tamanha bondade, vossa senhoria? Neste desterro mal amado. Num ninho dourado, por sangue de momentos interrompidos.

Sim, vossa senhoria, tamanha bondade? Porque me sinto inchado por vossa imagem mística! Ao lado da minha angústia blasfema. Por vossa imagem fantasmagórica. Voadora. Pensamentos fantasmas. A meu lado, senhoria. Ao pé de mim.

 

Desconheço esse buraco, senhoria. É estranho, para mim. Pois dá calor e virtude. Ao meu deboche venenoso e desfigurado.

Perdoará, mas prefiro que a minha alma vá por entre as brechas corrompidas. É melhor que se cubra de musgo, pois não vá infecta-la, nobre senhoria. Iria vacilar, com certeza. Não lhe assentaria bem, sabe? Pois seja assim; pela sua ignorante bondade. A minha insanidade, vagabundas orações por um nascer de sol, sem esperanças. Seja assim, senhoria.

 

E veja a catedral que habito: não tem deuses! É apenas para a passagem rápida do tempo, que me odeia.

É como um furacão de morte. Um rio de  sangue que me insulta. E corrói. Afogando a minha vida de tudo o que é realmente bom.

Acha que ainda mereço tamanha bondade, vossa senhoria?

 




Arquivo

  1. 2024
  2. JAN
  3. FEV
  4. MAR
  5. ABR
  6. MAI
  7. JUN
  8. JUL
  9. AGO
  10. SET
  11. OUT
  12. NOV
  13. DEZ
  14. 2023
  15. JAN
  16. FEV
  17. MAR
  18. ABR
  19. MAI
  20. JUN
  21. JUL
  22. AGO
  23. SET
  24. OUT
  25. NOV
  26. DEZ
  27. 2022
  28. JAN
  29. FEV
  30. MAR
  31. ABR
  32. MAI
  33. JUN
  34. JUL
  35. AGO
  36. SET
  37. OUT
  38. NOV
  39. DEZ
  40. 2021
  41. JAN
  42. FEV
  43. MAR
  44. ABR
  45. MAI
  46. JUN
  47. JUL
  48. AGO
  49. SET
  50. OUT
  51. NOV
  52. DEZ
  53. 2020
  54. JAN
  55. FEV
  56. MAR
  57. ABR
  58. MAI
  59. JUN
  60. JUL
  61. AGO
  62. SET
  63. OUT
  64. NOV
  65. DEZ
  66. 2019
  67. JAN
  68. FEV
  69. MAR
  70. ABR
  71. MAI
  72. JUN
  73. JUL
  74. AGO
  75. SET
  76. OUT
  77. NOV
  78. DEZ
  79. 2018
  80. JAN
  81. FEV
  82. MAR
  83. ABR
  84. MAI
  85. JUN
  86. JUL
  87. AGO
  88. SET
  89. OUT
  90. NOV
  91. DEZ
  92. 2017
  93. JAN
  94. FEV
  95. MAR
  96. ABR
  97. MAI
  98. JUN
  99. JUL
  100. AGO
  101. SET
  102. OUT
  103. NOV
  104. DEZ
  105. 2016
  106. JAN
  107. FEV
  108. MAR
  109. ABR
  110. MAI
  111. JUN
  112. JUL
  113. AGO
  114. SET
  115. OUT
  116. NOV
  117. DEZ
  118. 2015
  119. JAN
  120. FEV
  121. MAR
  122. ABR
  123. MAI
  124. JUN
  125. JUL
  126. AGO
  127. SET
  128. OUT
  129. NOV
  130. DEZ
  131. 2014
  132. JAN
  133. FEV
  134. MAR
  135. ABR
  136. MAI
  137. JUN
  138. JUL
  139. AGO
  140. SET
  141. OUT
  142. NOV
  143. DEZ
  144. 2013
  145. JAN
  146. FEV
  147. MAR
  148. ABR
  149. MAI
  150. JUN
  151. JUL
  152. AGO
  153. SET
  154. OUT
  155. NOV
  156. DEZ
  157. 2012
  158. JAN
  159. FEV
  160. MAR
  161. ABR
  162. MAI
  163. JUN
  164. JUL
  165. AGO
  166. SET
  167. OUT
  168. NOV
  169. DEZ
  170. 2011
  171. JAN
  172. FEV
  173. MAR
  174. ABR
  175. MAI
  176. JUN
  177. JUL
  178. AGO
  179. SET
  180. OUT
  181. NOV
  182. DEZ


topo | Blogs

Layout - Gaffe