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Torna-se dolorosa, esta pergunta, " és minha?", que desponta após uma e outra facada de solidão. Não me é próprio porque não me foi ensinado que sim, é possivel associar outra pessoa à minha vida. Que mesmo na escuridão a beleza é vísivel pelo toque.
Isto é algo que raramente disfrutei e por isso sou tão cinicamente egoísta e pretendo conservar num altar meu. Apenas meu. Mesmo que o próprio ar que respiro, a mesma água que bebo me pareçam agulhas afiadas. Mesmo que não encontre consolo nas páginas de um livro que se transformam em lâminas afiadas e prontas a matar. Percebo, no entanto que não me interessa escolher outro caminho. Que esta corrente me pode levar a qualquer sitio: a um local que nunca pensei existir. Se calhar, onde o perigo corre livre e onde acabarei de forma violenta e fatal. Em última consequência, pela capacidade de poder olhar uns olhos tão negros, pelo cheiro de uma pele suave e por um beijo de uns lábios tão obssessivamente carnudos, que repetidamente me afirmam que posso ser feliz, esta ilusão pode ser minha e merecida. Deixar-me arrastar pela corrente, arder em morte lenta, eu assumo como um pequeno preço, pela capacidade de perguntar olhos nos olhos, "és minha?".